Páscoa, nossa fé em Cristo Ressuscitado

Atualizado em 25/06/19 às 12:184 minutos de leitura563 views

Pe. José Assis Pereira Soares - Vigário Geral

Com a celebração deste Primeiro Domingo da Páscoa abrimos o Tempo Pascal. Este período de cinquenta dias, que nós chamamos de Páscoa, foi o caminho definitivo de aprendizagem, nos quais o Ressuscitado terminou a formação dos seus discípulos, a partir do prodígio de sua Ressurreição, preparando-os para algo mais definitivo que era a chegada do Espírito Santo, “que os ensinaria tudo” e para sua subida aos céus. Pouco a pouco, os discípulos foram se dando conta que haviam convivido com um ser excepcional, com um ser divino, com Deus mesmo. Para eles, este Jesus que ia e vinha, que aparecia e desaparecia, não era o mesmo. Era Ele, mas não era igual. Seu corpo glorificado tem qualidades que desafiavam a nossa “escravidão” de tempo e espaço, tinha outro aspecto. Sem duvida, era o reflexo da divindade. E iluminados por esse brilho divino começaram a chamá-lo de “Senhor”, termo só utilizado para Deus. Os olhos do coração e da mente dos discípulos se abriam a uma nova dimensão, impensável e incrível, mas que estava aí. Jesus havia ressuscitado, mas eles intuíam que não era uma volta à vida, como a nova vida de Lázaro. Esse corpo glorioso que até certo ponto os inquietava, lhes acrescentava também certeza de eternidade jamais experimentada antes. O Evangelho de São João (cf. Jo 20,1-9) é uma das peças mais belas do conjunto dos relatos evangélicos. Tem muito da linguagem cinematográfica. O apóstolo João, protagonista do relato, o guardava muito fresco em sua memória, não cabe a menor duvida, já que seria escrito muito anos depois, pelo mesmo, segundo a tradição. Pedro e João tendo escutado Maria Madalena, saem correndo até o sepulcro. João chega antes. Corria mais, era mais jovem, também era o discípulo amado. Mas não entra, talvez por algum tipo de temor, ou mais provavelmente por respeito à hierarquia já declarada e admitida de Pedro. Descreve o evangelista na cena a exata posição dos panos, e do sudário, elementos que havia na gruta: “Ele viu, e acreditou.”(v. 8) A fé na Ressurreição de Jesus Cristo é um dogma cristão, um dogma fundamental porque é o dogma no qual se fundamentam, segundo pensavam São Paulo, Santo Agostinho e todos os teólogos cristãos, todas os ensinamentos cristãos. Nenhum dos discípulos e seguidores e seguidoras de Jesus foram testemunhas diretas do momento da ressurreição. As duas razões principais que alegavam os apóstolos para fundamentar sua fé na Ressurreição de Jesus eram a comprovação do sepulcro vazio e as aparições do Ressuscitado a algumas pessoas que mais lhe amaram enquanto o Ressuscitado viveu aqui na terra. Nenhuma destas duas razões pode demonstrar cientificamente nossa fé na Ressurreição, de acordo com as exigências da história e da ciência empírica atual. Por isso, nossa fé na Ressurreição é um dogma de fé, uma verdade revelada, não uma verdade empírica e cientificamente demonstrável. Porém, o mais importante para nós não é o “como” da Ressurreição de Jesus e de nossa própria ressurreição; o realmente importante é que nós façamos de nossa fé na ressurreição uma experiência vital que nos impulsione a viver como pessoas ressuscitadas, em comunhão espiritual com o Ressuscitado. A fé na ressurreição tem sido, de fato, para muitas pessoas, uma força interior profunda que lhes ajudou a suportar grandes dificuldades e até o próprio martírio. A fé na ressurreição para os apóstolos, e deve ser também para todos nós, uma força maior que o medo da morte. Foi sua fé na ressurreição a que lhes converteu em testemunhas valentes e em mártires cristãos. Muitas das realidades deste mundo nos pareceriam inexplicáveis se suprimimos nossa fé na ressurreição. Vivemos em um mundo no qual a injustiça e a mentira triunfam e ganham espaço por toda parte. Os justos não tem, neste mundo, melhor sorte que os injustos. È, de uma maneira especial, nossa fé na ressurreição nos diz que vale a pena seguir tentando ser justos, ainda que por isso tenhamos que sofrer, neste mundo, penas e até mesmo o martírio. Deus nos resuscitará, como ressuscitou a Jesus, em nosso último dia, e nos julgará segundo nossas obras e sua infinita misericórdia. Nossa fé e nossa esperança na ressurreição podem e devem iluminar nosso difícil caminhar. Guardemos uma alegre reverência ante estes grandes mistérios que se nos apresentam nestes dias pascais. Meditemos sobre eles e esperemos: a glória de Jesus um dia chegará a nós mesmos, a nossos corpos no dia da Ressurreição de todos. Este é outro dos grandes mistérios de nossa fé que não devemos, nem podemos duvidar. A morte e ressurreição estão presentes na vida de cada um de nós. Fomos batizados na Sua morte, diz São Paulo. “Não sabeis que os que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na Sua morte? Fomos, pois, pelo batismo sepultados com Ele na morte para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos para glória do Pai, assim caminhemos numa vida nova (Rm 6,3-4). Morremos com Ele para o pecado e ressuscitamos com Ele para a vida da graça. Participamos da sua morte e ressurreição.

Comentários (0)