Missa em sufrágio do Sumo Pontífice, Papa Francisco, na catedral

Atualizado em 21/04/25 às 22:4115 minutos de leitura109 views

Em um momento de profunda emoção e fé, a comunidade diocesana de Campina Grande — em seus padres, diáconos, seminaristas, religiosos e leigos — reuniu-se ao redor de seu bispo, Dom Dulcênio Fontes de Matos, para celebrar a Santa Missa em sufrágio da alma do Sumo Pontífice, Papa Francisco, falecido na manhã desta segunda-feira, 21.

A celebração, realizada na Catedral de Nossa Senhora da Conceição, às 19h30, foi marcada por um clima de intensa comunhão, unindo a Igreja particular de Campina Grande à Igreja de Roma, em oração pelo descanso eterno do Santo Padre.

A homilia do bispo trouxe reflexões profundas sobre a vida, a morte e o legado espiritual deixado por Jorge Mario Bergoglio, o Papa que marcou a história recente da Igreja com sua simplicidade, coragem pastoral e amor pelos pobres.

Dom Dulcênio iniciou sua pregação evocando o silêncio do Sábado Santo, comparando-o ao momento de luto vivido pela Igreja. Refletiu sobre a partida de Jorge Mario Bergoglio, destacando a vulnerabilidade da vida humana e o valor eterno da esperança cristã. "Não nascemos para o improviso", disse, lembrando que a morte não é fim, mas encontro – “o momento do abraço com o Senhor”, como ensinava o próprio Francisco.

“O Papa Francisco, em 2019, fez uma reflexão sobre o fim que aguarda cada pessoa, a morte, apresentando-a como o momento do abraço com o Senhor. Partindo disso, queria refletir sobre a vulnerabilidade humana, teor de sua homilia naquela mesma manhã. Em sua homilia, o Papa reiterou que “tudo acabará”, mas “Ele ficará”, e estas palavras o inspiraram para convidar cada um a refletir sobre o momento da morte. Nenhum de nós sabe quando acontecerá, ou melhor, com frequência temos a tendência de adiar o pensamento, acreditando-nos eternos, mas não é assim: todos nós temos esta fraqueza de vida, esta vulnerabilidade. A vulnerabilidade que é o eco da mortalidade”, refletiu.

A homilia conduziu os presentes por um percurso de memória e espiritualidade, relembrando palavras ditas pelo Papa em 2019, quando ele falava da morte como passagem e da vida como preparação constante. Dom Dulcênio destacou que a verdadeira grandeza de Francisco esteve em sua coragem de amar profundamente, especialmente os marginalizados.

“Seu pontificado foi marcado por um estilo pastoral mais próximo e inclusivo, com ênfase na solidariedade com os pobres e marginalizados. Papa Francisco destacou-se pela sua humildade, simplicidade e preocupação com as questões sociais. Porém, nunca! Nunca! Nunca deixou que a Igreja de Nosso Senhor parecesse a instituição ideológica de assistencialismo estéreo, mas, a verdadeira instituição de caridade do mundo. A única que dar comida com catequese. E, deveríamos, por meio disso, pedí-lo perdão por muitas vezes que confundimos sua proximidade e seu amor, com ideologias políticas sociais”, destacou.

O bispo também ressaltou o legado deixado por Francisco por meio de suas exortações e encíclicas. Obras como Evangelii Gaudium, Laudato Si’, Fratelli Tutti e Dilexit Nos foram citadas como expressões vivas de um pontificado centrado no amor, na justiça e na misericórdia. Francisco viveu o Evangelho com radicalidade franciscana.

“O cardeal Bergoglio não escolheu o nome Francisco a toa... se tivéssemos observado os sinais dos tempos e todas as suas ações, talvez, tínhamos descoberto que tudo aquilo que foi feito, o próprio São Francisco o havia pedido à Igreja... Ora, o Pobre de Assis queria apenas viver o Evangelho sem nada de próprio... e o que Papa Francisco quis? Viver o Evangelho sem nada para si, senão o amor ao povo. Ele extrapolou as barreiras do cristianismo e do catolicismo. Estamos não só perdendo um Papa e um Chefe de Estado, estamos perdendo um homem de Deus”.

Uma das passagens mais tocantes da homilia foi a recordação da imagem do Papa sozinho na Praça São Pedro durante a pandemia, simbolizando a dor do mundo e a fé silenciosa que sustenta a humanidade. Para o bispo, aquele momento sintetiza o espírito de Francisco: vulnerável, mas profundamente forte; solitário, mas universal em seu amor.

“Eu poderia elencar várias cenas fortes sobre nosso Santo Padre nesta noite, contudo, escolhi a cena que mais tocou os olhos e o coração do mundo: aquele velhinho subindo vagarosamente os degraus da praça São Pedro naquela noite nublada para rezar pela pandemia do Coronavírus. Pela primeira vez na história milenar da Igreja católica, o Papa rezou naquele dia, sozinho, sem auxiliares, sem destino, diante da imensa praça vazia (silenciosa e fria) de São Pedro e deu a bênção e a indulgência plenária ao mundo pela pandemia do novo coronavírus que o atormentava... e clamou “Deus onipotente e misericordioso, olha a nossa dolorosa situação: conforta teus filhos e abre nossos corações à esperança, porque sentimos sua presença de Pai em nosso meio”, destacou.

Ao final da celebração, Dom Dulcênio convidou todos a entoarem juntos a Oração de São Francisco, como despedida e compromisso com o caminho trilhado pelo Papa. Agora, fica o vazio da voz que não ouviremos mais, mas permanece a melodia do exemplo que ele nos deixou. Francisco esperou a alegria da Ressurreição para partir. E partiu como viveu: levando esperança.

“Francisco, Francisco... esperaste apenas as alegrias da Ressurreição do Senhor neste ano da Esperança para partires com Ele também. E como ficamos? Com saudade! Com muita saudade! Farás falta... Obrigado por nos descrever como é ser Peregrino da Esperança. Conhecemos, verdadeiramente, um Santo Padre... homem que carregou em seus ombros o peso do mundo, mas, que foi auxiliado pela misericórdia de Deus.

Por: Ascom
Fotos: Joaquim Urtiga (Pascom Diocesana)

Confira a homilia na íntegra:

DÓI AMAR... DÓI SENTIR SAUDADES... DÓI VIVER...

Parece que, muitas vezes, temos que improvisar na vida... mas nem sempre conseguimos, não é? Não nascemos para o improviso... não nascemos para o imprevisto... o silêncio do Sábado Santo, que vivenciamos há 3 dias, parece ressoar neste dia e nesta noite...

No dia 29 de novembro de 2019, antes mesmo do ano em que o mundo pararia por conta do Coronavírus, na homilia da missa matutina na Casa Santa Marta, o Papa Francisco fez uma reflexão sobre o fim que aguarda cada pessoa, a morte, apresentando-a como o momento do abraço com o Senhor. Partindo disso, queria refletir sobre a vulnerabilidade humana, teor de sua homilia naquela mesma manhã.

Em sua homilia, o Papa reiterou que “tudo acabará”, mas “Ele ficará”, e estas palavras o inspiraram para convidar cada um a refletir sobre o momento da morte. Nenhum de nós sabe quando acontecerá, ou melhor, com frequência temos a tendência de adiar o pensamento, acreditando-nos eternos, mas não é assim: todos nós temos esta fraqueza de vida, esta vulnerabilidade. A vulnerabilidade que é o eco da mortalidade.

O que falar à nossa ilusão de pensarmos ser eternos? A esperança no Senhor! Engana-nos esse pensar na eternidade aqui na terra.

A certeza da morte, ao invés, está escrita na Bíblia e no Evangelho, mas o Senhor nos apresenta como um “encontro com Ele” e está acompanhada pela palavra “esperança”. O Senhor nos fala para estarmos preparados para o encontro, e a morte é um encontro: é Ele quem vem nos encontrar, é Ele quem vem nos pegar pela mão e nos levar até Ele.

Eu não gostaria que essa simples pregação fosse um aviso fúnebre! É simplesmente Evangelho, é simplesmente vida, é simplesmente dizer um ao outro: somos todos vulneráveis e todos temos uma porta à qual o Senhor um dia baterá.

É necessário, portanto, preparar-se bem para o momento em que a campainha tocará, o momento em que o Senhor baterá à nossa porta: rezemos um pelo outro - foi o convite do Papa também aos fiéis presentes naquela Missa - para estar prontos, para abrir a porta com confiança ao Senhor que vem. De tudo, levaremos o abraço do Senhor!

Jorge Bergoglio ingressou na Companhia de Jesus; foi professor de teologia, reitor da Faculdade de São Miguel e bispo auxiliar de Buenos Aires. Logo mais tarde, Arcebispo de Buenos Aires; foi nomeado cardeal pelo Papa João Paulo II em 2001. E em 2013, após a renúncia do “nosso santo teólogo Bento XVI” foi eleito papa.

Seu pontificado foi marcado por um estilo pastoral mais próximo e inclusivo, com ênfase na solidariedade com os pobres e marginalizados. Papa Francisco destacou-se pela sua humildade, simplicidade e preocupação com as questões sociais. Porém, nunca! Nunca! Nunca deixou que a Igreja de Nosso Senhor parecesse a instituição ideológica de assistencialismo estéreo, mas, a verdadeira instituição de caridade do mundo. A única que dar comida com catequese. E, deveríamos, por meio disso, pedí-lo perdão por muitas vezes que confundimos sua proximidade e seu amor, com ideologias políticas sociais.

Papa Francisco fez uma descrição da vida em Cristo à Igreja, seja a partir das exortações apostólicas, seja pelas cartas apostólicas; das encíclicas; seja também pelas suas belas reflexões. Falou sobre a Alegria do Evangelho (Evangelli Gaudium-2013) a partir da Luz da Fé (Lumen Fidei-2013), sem desmerecer o Cuidado com a Casa Comum (Laudato Si-2015) alertando-nos sobre a Misericórdia e a prática da Fé (Misericordia et Misera-2016), sobretudo no amor na Família (Amoris Laetitia-2016). Tudo isso para nos convidar à santidade de vida (Gaudete et Exultate-2018) que pode ser encontrada em qualquer idade e em qualquer lugar, principalmente a partir da juventude (Christus vivit-2019). E, em meio ao desespero e às incertezas da vida, tocou-nos o coração em falar sobre a fraternidade de todos, para que fôssemos todos irmãos (Fratelli Tutti-2020), para culminar no amor humano frente ao Divino Coração de Jesus (Dilexit Nos-2024). Que belo percurso catequético! E como não lembrar a primeira fala dele ao mundo onde usa da Escritura para proferir um dos discursos papais mais simples e mais lacônicos onde dizia: - Não trago nem ouro nem prata, mas, trago o que de mais importante tenho: Jesus Cristo!

O mundo hoje chora! Sim! O MUNDO INTEIRO CHORA! O MUNDO É QUEM NOS CATEQUISA NO DIA DE HOJE, PORQUE, POR MUITAS VEZES, O MUNDO RECONHECEU – PRIMEIRO QUE NÓS, A SUA IGREJA – O VALOR QUE O PAPA FRANCISCO TEVE NA HISTÓRIA! O mundo é quem nos “sacode” e diz: vocês realmente têm ou tinham um verdadeiro homem de Deus! Isso nos serve de escuta... de reflexão... por que demoramos a enxergar o seu valor em nosso meio? Não foram todos; todavia, uma boa parte.

O cardeal Bergoglio não escolheu o nome Francisco a toa... se tivéssemos observado os sinais dos tempos e todas as suas ações, talvez, tínhamos descoberto que tudo aquilo que foi feito, o próprio São Francisco o havia pedido à Igreja... Ora, o Pobre de Assis queria apenas viver o Evangelho sem nada de próprio... e o que Papa Francisco quis? Viver o Evangelho sem nada para si, senão o amor ao povo. Ele extrapolou as barreiras do cristianismo e do catolicismo. Estamos não só perdendo um Papa e um Chefe de Estado, estamos perdendo um homem de Deus.

Talvez, hoje, revisitando toda essa história, tenhamos uma nova visão de Pedro... uma visão de um Pedro não tão impulsivo como nos relata a Escritura, mas como um homem manso, amoroso, que fita o olhar como o fez Jesus muitas vezes. Talvez Pedro fosse assim mesmo, sabe por que? Porque a diferença de Pedro para Judas foi o arrependimento e o ímpeto inigualável de querer defender ou morrer pelo seu Mestre. Enfrentaria tudo, até mesmo, com a espada na bainha, para defender o Amor. O Amor que não era amado...

Olhar para as notícias, para os órgãos, para os meios telecomunicativos ou sociais, e perceber a grandiosidade de manifestações em palavras para com Papa Francisco, é motivo de orgulho! Motivo de orgulho porque foi o homem do milênio. Sabe qual foi sua vulnerabilidade? Amar tão humanamente... É, meus filhos, amar tão humanamente deixa-nos vulneráveis, porque não enxergamos nada, senão apenas o amor. Que grande exemplo! Quiçá, porventura, tivéssemos a mesma coragem de amar como ele amou os pobres, os idosos, as viúvas, os excluídos, OS INDIGENTES. E também nos fala sobre outra coisa: de que nosso Papa era amado e admirado por outras religiões. E não por ser laxista, mas por ser a representação do amor nesse mundo.

Esse homem, realmente não tinha protocolo... para quê protocolo para amar? Há protocolo para o amor? Por que medir amor, formas de amar, ou como devo amar? Amar sem medida deve ser nosso protocolo de vida.

Eu poderia elencar várias cenas fortes sobre nosso Santo Padre nesta noite, contudo, escolhi a cena que mais tocou os olhos e o coração do mundo: aquele velhinho subindo vagarosamente os degraus da praça São Pedro naquela noite nublada para rezar pela pandemia do Coronavírus. Pela primeira vez na história milenar da Igreja católica, o Papa rezou naquele dia, sozinho, sem auxiliares, sem destino, diante da imensa praça vazia (silenciosa e fria) de São Pedro e deu a bênção e a indulgência plenária ao mundo pela pandemia do novo coronavírus que o atormentava... e clamou “Deus onipotente e misericordioso, olha a nossa dolorosa situação: conforta teus filhos e abre nossos corações à esperança, porque sentimos sua presença de Pai em nosso meio”.

Francisco sempre falando de misericórdia e esperança, não é? Era visível o esforço daquele homem em tudo e para todos.

Ontem, não se esperava a sua aparição para dar Feliz Páscoa ao mundo. Foi uma sinalização... sinalização de despedida.

Antes de ontem, celebrávamos a Ressurreição de Cristo, e hoje somos acometidos com a sua ressurreição... Francisco levou a ressurreição com o sorriso e alegria que refletem o seu modo de ser e seguir a Deus. Embora debilitado, distribuiu simpatia. Uma saudação de Feliz Páscoa... Parece uma desculpa perfeita para se despedir do mundo.

O que nos dói, no dia de hoje não é a sédia vazia... mas, “a sédia sozinha, sem seu consolo”, porque a vacância não se resume numa cadeira vazia, porém, numa cadeira silenciosa sem fala. O vazio pode ser preenchido, mas “o som ou o timbre da voz” nunca será imitado ou reproduzido tal e qual. Portanto, hoje, entra com ele no túmulo a sua voz; voz que nunca mais ouviremos em tempo real...

Ó mestre, fazei que eu procure mais... consolar que ser consolado, e compreender mais que ser compreendido...

- Francisco, Francisco... esperaste apenas as alegrias da Ressurreição do Senhor neste ano da Esperança para partires com Ele também. E como ficamos? Com saudade! Com muita saudade! Farás falta... Obrigado por nos descrever como é ser Peregrino da Esperança. Conhecemos, verdadeiramente, um Santo Padre... homem que carregou em seus ombros o peso do mundo, mas, que foi auxiliado pela misericórdia de Deus.

Uma coisa eu tenho certeza: a Igreja do Brasil e muitos brasileiros o amaram! A suas visitas e a JMJ do Brasil são eco desse amor!

E hoje, diante de nossa vulnerabilidade e, refletindo que só Ele permanece, eu só queria cantar com vocês e para o mundo, talvez, aquilo que ele muito rezou sozinho no quarto ou em seu leito, apenas a sós com Deus:

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz

Onde houver ódio, que eu leve o amor

Onde houver ofensa, que eu leve o perdão

Onde houver discórdia, que eu leve união

Onde houver dúvida, que eu leve a fé

Onde houver erro, que eu leve a verdade

Onde houver desespero, que eu leve a esperança

Onde houver tristeza, que eu leve alegria

Onde houver trevas, que eu leve a luz

Porque é morrendo que se vive para a vida eterna...


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