Lançamento da Campanha da Fraternidade é Marcado pelo Plantio de um Pomar como Ação Concreta de Cuidado ao Meio Ambiente
A Diocese de Campina Grande lançou oficialmente, na manhã desta
quinta-feira, 06 de março, a Campanha da Fraternidade 2025, com o tema voltado
ao cuidado com o meio ambiente e o lema "Deus viu que tudo era muito
bom" (Gn 1,31). O evento aconteceu no Centro Diocesano de Eventos São João
XXIII, em Lagoa Seca, e foi marcado por momentos de reflexão, oração e ação,
com destaque para o plantio de 73 mudas de árvores frutíferas, simbolizando as
paróquias, comunidades e Áreas Pastorais da Diocese. Este gesto concreto
reflete o compromisso da Igreja com a educação e a promoção de ações voltadas à
preservação ambiental.
O lançamento contou com a presença do Bispo Diocesano, Dom
Dulcênio Fontes e Matos, do Padre Alexandre Moreira, Coordenador de Campanhas,
e os demais padres de todas as paróquias da diocese, incluindo leigos e leigas,
religiosos e religiosas, diáconos e autoridades civis. Os participantes foram
acolhidos pela equipe de canto Benedictus e desfrutaram de um café coletivo,
fortalecendo o espírito de comunhão e fraternidade que caracteriza a Campanha
da Fraternidade deste ano.
Dom Dulcênio deu início oficialmente ao evento com sua alocução de
acolhida. Em sua fala, o prelado enfatizou a importância da conversão
comunitária e social, destacando a responsabilidade coletiva de cuidar e
preservar a criação. Ele lembrou que, neste tempo de Quaresma, todos são
chamados a refletir sobre a relação entre humanidade e natureza, ressaltando a
urgência da ecologia integral, especialmente diante da crise ambiental. O Bispo
também fez referência à Carta Encíclica Laudato Si’ e aos ensinamentos de São
Francisco de Assis, sublinhando que a Igreja nos chama a cuidar da Casa Comum,
reconhecendo que somos meros administradores da criação, e não seus donos. Para
o Bispo, a solução para a crise ambiental não está apenas em corrigir modelos
econômicos, mas em promover uma transformação cultural profunda, com a
colaboração de todos, independentemente de crenças.
Dom Dulcênio também comentou sobre o plantio das 73 mudas de
árvores frutíferas, uma ação concreta de cuidado com o meio ambiente. Ele
destacou que o gesto simbólico de plantar o pomar reflete o compromisso da
Igreja em educar e promover iniciativas práticas voltadas para a preservação
ambiental: "Este gesto é uma manifestação de esperança e fraternidade, simbolizando
a união das paróquias e a participação ativa de todos na construção de um mundo
mais justo e sustentável". Em suma, sua mensagem convocou todos a repensar
nossa relação com a terra e a agir de forma consciente, buscando restaurar a
harmonia entre a humanidade e a natureza, como ensina São João XIII: "A
criação é um bem de Deus, destinado, por Ele mesmo, para o bem de todos".
Após a alocução do Bispo, outro momento marcante do lançamento foi
a celebração da palavra na capela do Centro Diocesano, um instante de fé, unidade
e oração. Em seguida, foi realizado o gesto concreto do plantio do pomar:
representando suas paróquias, os padres plantaram mudas de árvores frutíferas
em um espaço dentro das dependências do Centro Diocesano. Este ato simbolizou o
compromisso da Diocese com o cuidado da terra, unindo celebração, ação e
reflexão ambiental.
O Padre Alexandre, coordenador de Campanhas, destacou a presença
da equipe em todas as foranias da Diocese para realizar visitas e formações,
reforçando o compromisso da Diocese com a Campanha da Fraternidade durante este
período de Quaresma.
Por fim, os presentes puderam participar da feira
Agroecológica, organizada pelo projeto “Mulheres Sementes do Reino”, coordenado
pelas Irmãs Dominicanas da Apresentação. O projeto tem como objetivo fortalecer
ações em defesa da Casa Comum, promovendo a geração de renda para mulheres
envolvidas na produção de artesanatos, fabricação de sabão ecológico, e no
cultivo de hortaliças e plantas medicinais agroecológicas.
Por:
Ascom
Fotos: Pascom (Paróquia de Lagoa Seca)
Confira
a Alocução do Bispo na íntegra:
É chegada mais uma quaresma e, com ela, mais uma campanha da
fraternidade aqui na Igreja do Brasil. Já são 61 anos dessa bonita experiência
de comunhão, conversão e partilha. O que nasceu simplesmente como uma coleta,
hoje, após um certo amadurecimento, também possui a dimensão formativa que
visa:
1) Despertar o
espírito comunitário e cristão na busca do bem comum;
2) Educar para a vida
em fraternidade;
3) Renovar a
consciência da responsabilidade de todos pela ação evangelizadora, em vista de
uma sociedade justa e fraterna.
Tudo isso, meus amados irmãos e irmãs, nada mais é do que um
programa de conversão e o tempo da quaresma é tempo propício para isto. Este
tempo forte que nos prepara para a celebração anual da Páscoa do Senhor possui
como linha mestra a exortação pela conversão, esta que não deve ser apenas
pessoal, pois não vivemos numa redoma.
Nossas vidas estão tramadas umas nas outras, somos filhos do mesmo
Pai, enxertados em Cristo pelo Batismo, por isso, nossa conversão também deve
levar em consideração a realidade comunitária e social, haja vista que ninguém
se salva sozinho.
Este ano, comemorando 10 anos da publicação da Carta Encíclica
Laudato Si’ e pelos 800 anos da composição do Cântico das Criaturas por São
Francisco de Assis, dentre alguns outros motivos, somos impelidos a refletirmos
seriamente sobre a Ecologia Integral, auxiliados pelo lema “Deus viu que tudo
era bom” (Gn 1,31).
Como está nossa Casa Comum? Na criação Deus viu que tudo era bom e
deu ao homem a responsabilidade de administrar toda criação. Como lidamos com
essa missão? Está estampado diante dos nossos olhos que falhamos e que “a
criação está gemendo como que em dores de parto” (Rm 8,22).
Por isso, o Santo Padre o Papa Francisco, em 2015, preocupado com
esta crise e colocando a Igreja como solidária e disposta a também ajudar,
escreveu a Carta Encíclica Laudato Si’.
No número 66 deste documento, o Papa afirma: “A harmonia entre o
Criador, a humanidade e toda a criação foi destruída por termos pretendido
ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecer-nos como criaturas limitadas. Este
facto distorceu também a natureza do mandato de ‘dominar’ a terra e de a
‘cultivar e guardar’. Como resultado, a relação originariamente harmoniosa
entre o ser humano e a natureza transformou-se num conflito (cf. Gn).
Entretanto, tal situação não é irremediável. A plena harmonia com
as criaturas, vivida pelo santo de Assis, nos mostra que é possível sanar essa
ruptura. Toda a criação é nossa irmã, não aos moldes do homem, que foi criado a
imagem e semelhança de Deus, mas é porque todos fazemos parte da obra da
criação.
Se temos consciência disso, olhamos para o mundo de forma
diferente. Não como algo a ser simplesmente explorado, movidos pela ganância,
mas tendo ciência que tudo é obra da criação e que nós somos meros
administradores, não somos Deus.
Devido ao uso irresponsável e do abuso dos bens da criação, devido
uma má compreensão da real relação entre homem e natureza, onde nossa casa
comum foi dominada não para usufruto saudável, mas para saques sem limites,
chegamos a situação de crise.
O planeta, que ora se apresenta como irmão, em relação à criação,
ora como mãe, que mantém seus filhos, passa por uma dramática situação fruto da
atividade descontrolada do homem, da exploração selvagem em vista do lucro. A
ganância de poucos está arrasando a terra e os mais pobres, isto é, a parcela
esmagadora da sociedade, já enfrenta as consequências disso.
A via para consertar essa situação não é simplesmente a correção
dos modelos de crescimento, mas é preciso uma modificação profunda na cultura
e, para este fim, todos são chamados a colaborarem, haja vista que embora
tenham diferentes pontos de vista cultural e religioso, o planeta é a casa de
todos.
Oito anos depois da publicação da Laudato si’, o Papa Francisco
volta a escrever sobre o mesmo tema na Exortação Apostólica Laudate Deum, porém
de forma mais incisiva e, porque não, apocalíptica, haja vista que pouco foi
feito nesses oitos anos.
No passado, na Laudato si’, o Papa alertou sobre o cuidado para
com a casa comum devido uma crise que se avistava. Em 2023 o Papa fala
diretamente sobre a crise, um pouco preocupado, mas ainda esperançoso.
Preocupado porque pouca coisa foi feita nestes últimos anos. Esperançoso porque
à luz da fé, sempre há esperança.
A Igreja, na pessoa no Papa, atua com uma postura profética,
própria de sua natureza, exortando a todos sobre o pecado contra a criação, a
ruptura que estabelecemos entre a humanidade e a natureza. Somente repensando
nosso agir podemos dar passos rumo a saída desta crise, corrigir esta falta,
este pecado, que talvez seja o mais perigoso do nosso tempo.
É preciso ter consciência que tudo na terra é interligado e que
toda ação possui consequência em outros campos e que depois acaba chegando a
nós; é como um bumerangue. Não basta constatar a realidade e não agir para
alcançar uma resolução, nem muito menos somente impor leis, é preciso uma
profunda mudança na cultura.
Este ano, toda Igreja vive o Jubileu da Encarnação, desta vez
intitulado “Jubileu da Esperança”. Celebrar um jubileu é algo que já existia na
tradição antiga de Israel, era um ano que tinha como característica uma série
de práticas fraternas, dentre as quais o retorno ao próprio clã (Lv 25,10), a
justiça nas relações de compra e venda (Lv 25,14) e, principalmente, o descanso
da terra (Lv 25,11.12b), pois a terra também honra ao Senhor.
Oxalá que neste ano de 2025, impulsionados pela celebração do
jubileu e iluminados por esta Campanha da Fraternidade, possamos assumir o
cuidado da Casa Comum como expressão contemporânea do descanso da terra.
Conclamo aos meus padres que, durante este ano, observem nas
paróquias formas de vivenciar de modo prático esta Campanha como gesto concreto
da quaresma. São muitas as formas possíveis, pois grande é a nossa Casa Comum e
vários são os problemas que a afligem.
Hoje, aqui no nosso Centro de Eventos São João XXIII, que
oficialmente abre as portas, faremos um gesto simples, mas concreto.
Plantaremos um pomar numa área que estava descoberta, dando mais oxigênio ao
mundo e frutos para o nosso seminário, assim que possível. Serão 73 mudas,
representando as paróquias e áreas pastorais que compõem nossa Diocese.
Aqui, neste recanto, iremos promover nossos encontros, retiros,
bem como está aberto a toda sociedade, e teremos a oportunidade, como hoje já
experimentamos, de entrar em contato com nossa irmã natureza não como
destruidores, mas como irmãos.
Concluo citando São João XIII, patrono deste Centro Diocesano de
Eventos: “A criação é um bem de Deus, destinado, por Ele mesmo, para o bem de
todos” (Carta Encíclica Mater et Magistra).

























