No Convento das Clarissas: Irmã Maria Isabel Professa votos Temporários

Atualizado em 25/01/25 às 21:1114 minutos de leitura95 views

A Comunidade Franciscana da Diocese de Campina Grande, juntamente com toda a Igreja Particular, celebrou com alegria neste sábado, 24 de janeiro, a profissão dos votos temporários da Irmã Maria Isabel. A comunidade local se uniu em oração, celebrando o início deste novo capítulo na vida da irmã, que agora caminha em direção à sua total consagração ao carisma da Ordem das Irmãs Pobres de Santa Clara. A celebração foi marcada por uma Missa Solene presidida por Dom Dulcênio Fontes de Matos, Bispo Diocesano de Campina Grande, e contou com a presença de Padres, Diáconos, Religiosos e fiéis no Convento das Clarissas, acompanhando com emoção este significativo momento de fé.

Na homilia de Dom Dulcênio, a conversão é o tema central, exemplificada pela experiência de São Paulo. A conversão de Paulo não foi apenas uma mudança ética ou intelectual, mas uma transformação profunda de seu ser, marcada pela graça de Deus, que o impulsionou a se tornar um apóstolo fervoroso.

“Considerando com atenção essa vicissitude de Paulo, compreende-se como a transformação que ele experimentou na sua existência não se limita ao plano ético — como conversão da imoralidade para a moralidade — nem sequer ao plano intelectual — como mudança do próprio modo de compreender a realidade — mas trata-se sobretudo de uma renovação radical do próprio ser, sob muitos aspectos semelhante a um renascimento. Tal transformação encontra o seu fundamento na participação no mistério da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, e delineia-se como um caminho gradual de conformação a Ele”, destacou inicialmente.

O prelado destacou que a conversão não vem de um esforço humano, mas é um dom da graça divina. A fé cristã, ao contrário de um sistema, é a adesão pessoal a Jesus Cristo, que se entrega por nós. Paulo, em sua jornada, passou a viver centrado em Cristo, e essa transformação é um modelo de fé para todos os cristãos.

“Na vicissitude deste evangelizador extraordinário vê-se claramente que essa transformação não é o resultado de uma longa reflexão interior, nem sequer o fruto de um esforço pessoal. Ela é, antes de tudo, obra da graça de Deus que agiu em conformidade com as suas modalidades imperscrutáveis”, trouxe.

Dom Dulcênio conectou essa conversão com o Ano Jubilar da Esperança, lembrando que, há 2025 anos, a Esperança veio habitar entre nós com a Encarnação de Jesus Cristo. A fé cristã não é um conceito abstrato, mas uma vivência pessoal de encontro com Cristo, cuja vida, morte e ressurreição são o fundamento da nossa esperança e vocação.

“São Paulo, quando sucessivamente é chamado a defender a legitimidade da sua vocação apostólica e do Evangelho por ele anunciado, diz: “Já não sou eu que vivo. É Cristo que vive em mim. E esta vida, que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou a Si mesmo por mim”.

O exemplo de São Francisco é mencionado, comparando sua conversão à de Paulo. Ambos, tocados por uma experiência divina, passaram por uma mudança radical. Paulo desceu de seu ego ao ser tocado por Cristo, e Francisco, ao se deparar com o leproso, também desceu de seu cavalo de vaidade. A conversão de ambos foi uma transformação interior profunda.

“Paulo não cai do cavalo (como se diz popularmente), mas desce do seu eu para perceber no cristão (aquele a quem tanto perseguia) quem falava com ele; Francisco sim, desce do cavalo, para perceber no leproso a quem também falava com ele. A conversão de Paulo acontece em Damasco ao perceber a vida do outro; a conversão de Francisco acontece ao descer do cavalo quando o seu olhar se cruza profundamente com o olhar leproso e não quando fala com o Crucifixo”, sublinhou.

Dom Dulcênio finaliza exortando a Irmã Isabel e as irmãs a viverem essa conversão continuamente, como testemunhas da ação de Deus. A vida religiosa é um campo de transformação contínua, onde se vive a simplicidade, humildade e pobreza, seguindo o exemplo de São Francisco e Santa Clara. A conversão não é um evento único, mas um caminho diário de conformação à vontade divina.

Sobre a profissão de fé

A profissão de votos temporários (simples) na vida monástica é um compromisso de seguir a Regra de Santa Clara, com base no Evangelho, sem possuir bens próprios e vivendo os conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência. Esses votos são renovados por três anos consecutivos antes da Profissão Solene, que resulta na consagração definitiva da monja, compromissando-se a viver plenamente esses princípios na Ordem das Irmãs Clarissas.

O processo de formação para a vida monástica inicia-se com o Postulantado, momento em que a jovem é acolhida no Mosteiro e passa a conhecer mais sobre a vida religiosa, garantindo um discernimento vocacional sério. Em seguida, a jovem entra no Noviciado, onde vive por dois anos a experiência da vida contemplativa, aprofundando-se no espírito de Francisco e Clara, através de estudos, oração e vida sacramental. Após essa etapa, vem o Juniorato, período de três anos em que a monja aperfeiçoa sua formação, vivendo integralmente os votos e a missão da Ordem. Finalmente, a Profissão Solene marca o compromisso definitivo com a vida religiosa, com a irmã prometendo fidelidade perpétua a Deus e à Ordem, sendo plenamente integrada na vida monástica.

Por: Ascom
Fotos: Matheus Borges (Pascom Diocesana)

Confira a Homilia de Dom Dulcênio, na íntegra:


HOMILIA POR OCASIÃO DA PROFISSÃO SIMPLES DAS DAMAS DA POBREZA

MOSTEIRO DE SANTA CLARA – ORDEM DE SANTA CLARA

DIOCESE DE CAMPINA GRANDE-PB

ANO JUBILAR DA ESPERANÇA

 

CONVERSÃO DE SÃO PAULO, APÓSTOLO

At 22,3-16 | Sl 116(117) | Mc 16,15-18

 

 

•          Caríssima Madre Letícia, por quem estendo minha gratidão às demais Damas Pobres;

•          Amada Esposa do Cristo Pobre e Crucificado, Irmã Maria Isabel, que prometerá fidelidade ao Senhor;

•          Amados fiéis aqui presentes: devotos e devotas de São Francisco e Santa Clara;


“Eu sou o menor dos Apóstolos [...] pois persegui a Igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e a graça que Ele me deu não foi inútil” (1 Cor 15, 9-10). O apóstolo Paulo resume assim o significado da sua conversão. Ela, que aconteceu depois do fulgurante encontro com Jesus Ressuscitado no caminho de Jerusalém para Damasco, não é a primeira de toda uma mudança moral, mas uma experiência transformadora da graça de Cristo, e ao mesmo tempo a chamada a uma nova missão, a de anunciar a todos o Jesus que antes perseguia nos seus discípulos.

Pois bem, hoje, somos convidados a refletir sobre a conversão. Primeiramente, Saulo, cidadão romano por privilégio, era um judeu convicto, formado na escola de Gamaliel, em Jerusalém. Opôs-se decididamente à nova fé que começava a propagar-se na Palestina e arredores. Clamou pela morte de Estêvão, e tomou parte nela, guardando as capas dos que apedrejavam o protomártir. Perseguiu violentamente os crentes em Jesus Cristo. O seu nome causava terror nas comunidades cristãs.

Ao dirigir-se para Damasco para prender os cristãos que lá encontrasse e conduzi-los a Jerusalém, encontrou Jesus ressuscitado. Esse encontro mudou sua vida, com a sua forma de crer e de pensar. Jesus ressuscitado, que ele perseguia, tornou-se o centro da sua espiritualidade e da sua teologia. Como apóstolo verdadeiro e autêntico, Paulo tem sempre o cuidado de voltar a Jerusalém para se confrontar com os outros apóstolos e não correr em vão.

O evento de Damasco articula-se em três momentos: um diálogo de reconhecimento mútuo entre Jesus Ressuscitado e Saulo; a conversão de Saulo revelada na pergunta: “Que hei de fazer, Senhor?”; e a missão: quem conheceu a vontade de Deus e viu o Justo recebendo a palavra da sua boca, torna-se testemunha do que viu e ouviu.

Em S. Paulo revela-se verdadeiramente o poder de Deus. Inimigo acérrimo do nome de Cristo, todavia, no caminho de Damasco, transformado, acolhe-O na fé e torna-se seu Apóstolo entusiasta, com uma fecundidade extraordinária. O seu itinerário de fé é símbolo do nosso.

Acreditar implica, antes de tudo, encontrar pessoalmente Jesus de Nazaré, Deus feito homem. O cristão não se acredita numa doutrina, num sistema, mas numa pessoa, a pessoa humano-divina de Jesus. E Paulo não compreendia isso. Pelo contrário, acreditava ser tolice demais: seguir um homem tido como o fracasso ou pecado: Jesus Crucificado, a quem gritavam nas vielas ter ressuscitado. Mal imaginaria ele, que mais tarde, seria um desses que estaria gritando (feito um tolo) que prega o Cristo Ressuscitado e que, realmente, Ele vive!

Irmãos, ter fé é aderir vitalmente a Jesus, de tal modo que já não se pode viver sem Ele. Ainda: ter fé, será muitas vezes acreditar naquilo que não se tateia, mas talvez, noutro momento, se sinta.

Paulo foi transformado num apóstolo incansável do Evangelho de Jesus Cristo. Na vicissitude deste evangelizador extraordinário vê-se claramente que essa transformação não é o resultado de uma longa reflexão interior, nem sequer o fruto de um esforço pessoal. Ela é, antes de tudo, obra da graça de Deus que agiu em conformidade com as suas modalidades imperscrutáveis. É por isso que Paulo, escrevendo à comunidade de Corinto alguns anos depois da sua conversão afirma: “Pela graça de Deus sou aquele que sou, e a graça que Ele me concedeu não foi inútil”. O Apóstolo Paulo é nosso guia em tempos de aprofundamento espiritual e de renovação apostólica.

Além disso, considerando com atenção essa vicissitude de Paulo, compreende-se como a transformação que ele experimentou na sua existência não se limita ao plano ético — como conversão da imoralidade para a moralidade — nem sequer ao plano intelectual — como mudança do próprio modo de compreender a realidade — mas trata-se sobretudo de uma renovação radical do próprio ser, sob muitos aspectos semelhante a um renascimento. Tal transformação encontra o seu fundamento na participação no mistério da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, e delineia-se como um caminho gradual de conformação a Ele. À luz desta consciência são Paulo, quando sucessivamente é chamado a defender a legitimidade da sua vocação apostólica e do Evangelho por ele anunciado, diz: “Já não sou eu que vivo. É Cristo que vive em mim. E esta vida, que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou a Si mesmo por mim”.

A experiência pessoal vivida por São Paulo permite-lhe aguardar, com esperança, o cumprimento deste mistério de transformação, que dirá respeito a todos aqueles que acreditaram em Jesus Cristo. Oxalá! Que alegria contém nessa frase, uma vez que estamos em meio ao Ano Jubilar da Esperança; ano em que se recorda 2025 anos que a Esperança no veio consolar e habitar entre nós. Ou seja, há 2025 anos o Verbo se fez carne e habitou verdadeiramente entre nós. E esta foi a mesma esperança com que Paulo anunciou, porque não podemos – em hipótese alguma – separar a Encarnação da Sua Paixão e Ressurreição: formas identificáveis do Apóstolo Paulo.

Agora, dirijo-me singularmente, às irmãs, para falar-lhes que São Paulo e São Francisco tem algo em comum: a conversão. Muitos pensam que a conversão de Francisco acontecera a partir da fala do Crucificado em São Damião. Quando na verdade a sua conversão acontece no evento em que o amargo se torna doce. E por que a conversão desses dois homens é comum?

A caminho de Damasco, Saulo foi surpreendido por uma luz que o cega. A caminho de Assis, Francisco cavalgava e foi surpreendido por uma voz que o ensurdece. Paulo escuta uma voz que o direciona, antes mesmo de apedrejar cristãos; Francisco, escuta uma voz, antes mesmo de partir para guerra da cavalaria.

Paulo não cai do cavalo (como se diz popularmente), mas desce do seu eu para perceber no cristão (aquele a quem tanto perseguia) quem falava com ele; Francisco sim, desce do cavalo, para perceber no leproso a quem também falava com ele. A conversão de Paulo acontece em Damasco ao perceber a vida do outro; a conversão de Francisco acontece ao descer do cavalo quando o seu olhar se cruza profundamente com o olhar leproso e não quando fala com o Crucifixo.

Já lhe tocou alguma vez quando trocou um olhar com alguém, e através do olhar aquela pessoa lhe disse tudo que tinha ou sentia? Realmente, meus irmãos, o olho é a janela da alma... e desse modo foram transformados.

O processo de conversão de Clara foi, também, iluminado pelo Pai celestial para seguir o exemplo de São Francisco.  Ela se propôs a fazer penitência e a seguir a Regra de um homem que muitos chamavam de tolo; por se sentir livre em dizer que nada queria viver a não ser o Evangelho e sem nada de próprio. Clara abdicou de sua riqueza; Francisco cortou seus cabelos e a vestiu com uma túnica que mortificaria sua vida no mundo, dando-lhe a vida para o bem do mundo. O resultado da conversão de Santa Clara foi a fundação da Ordem das Clarissas, e sua vida foi marcada por uma profunda fé e um compromisso com a simplicidade e a humildade e que hoje estamos aqui para colher seus frutos.

Clara, em seu Testamento diz que após o Altíssimo Pai celestial, pouco depois da conversão do Pai São Francisco, se dignou iluminar o coração para que, seguindo-lhe o exemplo, fizesse penitência, segundo a luz da graça que o Senhor lhe comunicou através da sua vida maravilhosa e da sua doutrina, estaria pronta, voluntariamente, para a obediência juntamente com as poucas irmãs que o Senhor lhe tinha dado, logo depois de sua conversão. E, sempre se preocupou em observar e fazer observar a santa pobreza que prometia a Deus e a São Francisco.

Não tenhamos dúvidas de que o significado da palavra conversão seja iluminado pela vida desses personagens, uma vez que conversão é transformação. A gramática grega nos recorda que conversão é mudar, inverter; mudar a chave. Mudar a chave da vida. Será que você já mudou a chave de sua vida? Será que você deu abertura, como a Irmã que hoje realiza em sua vida os votos, para Deus converter, modificar a chave de sua vida? Você se recorda a primeira vez que foi atraído por Deus?

Como Paulo, na primeira leitura, fora instruído em todo o rigor da Lei de nossos antepassados, tornando-me zeloso da causa de Deus, como acontece hoje convosco; que a Irmã Isabel, também tenha sido instruída nos mais altos ensinamentos das fontes clareanas. Mais que isso: que a senhora, Irmã Isabel, se recorde daquilo que Santa Clara deixou (também) em seu Testamento quando dizia:

Admoesto e exorto no Senhor Jesus Cristo a todas as minhas irmãs, presentes e futuras, que se esforcem por seguir sempre o caminho da santa simplicidade, humildade e pobreza e que levem uma vida santa, como nos ensinou o Pai São Francisco no princípio da nossa conversão. E assim, por misericórdia e graça do divino doador, que é o Pai das misericórdias e não por nossos próprios méritos, irradiemos sempre, tanto a respeito das que estão perto, como das que estão longe, o odor de uma boa reputação. O levem a observar sempre a santa pobreza que prometeu a Deus e a nosso beatíssimo Pai Francisco para sempre conservá-lo.

Espero, Irmã Isabel, que os muros altos e as grades deste lugar tenham te tornado livre para abdicar do mundo, sobretudo, por Deus. E espero muito mais: que Ele tenha mudado a chave de tua vida; realmente te convertido juntamente com tuas irmãs. Aproveito até para deixar um recado às irmãs: convertam umas as outras, não sejam motivos de “escândalo ou desconversão” para quem deseja estar com Deus, porque muitas vezes “encontramos muitos Saulos dentro dos nossos muros”: verdadeiros perseguidores de inocentes e de quem só quer SEGUIR O CRISTO NU. Não sejam apedrejadores de vocações!

À intercessão de São Paulo desejo confiar todos aqueles que, com a sua oração e o seu compromisso, se prodigalizam pela causa da unidade dos cristãos. E, atrair a nós aquilo que a oração coleta desta celebração no disse hoje: que seguindo o seu exemplo, sejamos para o mundo, testemunhas da vossa verdade e conservemos a firme confiança no Deus que completa a sua obra!



 

Comentários (0)