Solenidade da Santa Mãe de Deus, na Catedral Diocesana
Neste dia primeiro de janeiro de 2025, conhecido,
também, por ser o dia mundial da paz, a igreja celebra a solenidade de Santa
Maria, mãe de Deus; e na catedral diocesana, a missa das 10h foi presidida por
Dom Dulcênio Fontes de Matos, bispo diocesano. Presente também os padres
Luciano Guedes, vigário geral e pároco da catedral, e Mércio Aurélio, vigário
paroquial, que concelebraram a Eucaristia, com assistência do diácono Ricardo e
dos seminaristas.
Nesta Missa, também estiveram presentes o prefeito
Bruno Cunha Lima e o vice-Alcindor Vilarin, empossados para gerir os destinos
da cidade de Campina Grande nos próximos quatro anos, entregando no Altar do
Senhor, a nova gestão para este novo mandato. Acompanhando o Prefeito e o vice,
estavam suas esposas, os auxiliares e secretários da nova gestão municipal, e o
deputado federal Romero Rodrigues.
A celebração reuniu fiéis na Catedral e a distância,
através da transmissão pelas redes sociais da diocese e Rádio Caturité FM
104.1.
No início de sua pregação, Dom Dulcênio destacou a
contribuição histórica da Igreja Católica para a formação cultural e social do
Brasil. Ele relembrou as bases cristãs da nação, enfatizando o papel da fé
católica como marco da identidade brasileira. Citando o nome inicial do país,
"Terra de Santa Cruz", o bispo convidou os presentes a refletirem
sobre a força espiritual que molda nossa brasilidade.
“A partir deste fator determinante, que não pode
ser visto apenas com o olhar histórico, como também cultural, social, religioso
e político, que devemos nos debruçar sobre as fontes cristãs, e daí entendermos
que brasilidade de nossa terra é eminentemente católica, sem desprezar os
demais segmentos religiosos que ganharam lugares no credo do povo brasileiro”,
destacou.
A laicidade do Estado foi um ponto central da
homilia, sendo apresentada como uma neutralidade necessária e distinta do
laicismo, que rejeita a religião. Dom Dulcênio alertou que o laicismo pode
despersonalizar as culturas e enfraquecer valores éticos e morais. Para ele, a
coexistência entre fé e Estado é essencial para preservar a dignidade humana.
“Em relação à Igreja Católica, por exemplo, até os
nossos dias, o respeito e a colaboração para a dignidade de todos é um dos
elementos comuns para as atividades destas distintas, mas prestigiadas
instituições. Cada uma com a sua função, com sua metodologia de exercício, mas
com a mesma preocupação: o homem. O Estado, por ver neste o cidadão; a Igreja,
por vê-lo imagem e semelhança de Deus. Ambos, por verem o ser humano como
dotado de dignidade íntegra”, trouxe.
Dirigindo-se às autoridades empossadas, ele
destacou a gestão pública como um "ministério" que deve promover
justiça e bem comum, inspirado por valores cristãos. Embora o Estado seja
laico, ele não pode ignorar a dimensão espiritual do povo nem desrespeitar suas
raízes culturais.
“Com esta atitude, não sois felizes
individualmente, mas estais implorando ao Senhor progresso, prosperidade para o
povo bom de Campina Grande. Estas vossas atitudes são práxis de um Estado laico,
que respeita as religiões, os credos e não relega ao esquecimento a vida
espiritual dos seus governantes. Isto é respeito ao nosso povo”, disse o bispo.
O bispo também denunciou a crise de valores que
ameaça a sociedade moderna, marcada por permissividade e desordem moral. Ele
reinterpretou o lema nacional "Ordem e Progresso", afirmando que só a
ordem fundamentada no amor e na ética cristã conduz ao verdadeiro progresso
humano.
“Se estes dois elementos não forem eivados pelo
amor de Cristo Jesus, e, a partir Dele, o amor entre os homens (a caridade), a
ordem será um faceire, um vazio e, quiçá, uma opressão, ao tempo em que o
progresso primar-se-á pela desumanidade.”
Ao finalizar, Dom Dulcênio exortou os presentes a defenderem a convivência social pautada na
ética e na fé. Com votos de bênçãos, ele chamou à união entre Estado e Igreja
para promover um futuro mais justo e solidário.
“Nos auguros de um próspero Ano Novo, invoco a
bênção de Deus sobre vós, para que os vossos labores sejam compartilhamentos da
obra criadora e santificadora de Deus”, findou.
Por: Ascom
Fotos: Marlyson (Pascom Catedral)
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Confira a homilia de Dom Dulcênio,
na íntegra.
(Catedral Diocesana, 01 de janeiro de 2025)
Pela verdadeira ordem ao pleno progresso
Excelentíssimos senhores Bruno Cunha Lima, Prefeito
Municipal de Campina Grande, e Alcindor Vilarin, digníssimo Vice-Prefeito;
Excelentíssimos
senhores vereadores;
Excelentíssimo senhor Romero Rodrigues, deputado federal
Também estendo a minha saudação a todas autoridades constituídas que se fazem
presentes nesta Liturgia;
Meus queridos irmãos e irmãs em Cristo Jesus,
“Feliz a nação, cujo Deus é o Senhor, e o povo que
escolheu por sua herança” (Sl 33, 12)
Ao estudarmos a História Universal, e, nesta, a
História do Brasil, perceberemos, sem muitos esforços, o papel singular da
Igreja Católica para a colonização desta terra. Este labor não cessa no
trabalho evangelizador, mas a partir deste, frutificou também em outros âmbitos
da edificação do nosso chão. O nosso país, assim como todo o continente
Latino-Americano, nasceu sob as sombras dos braços da Cruz Redentora do Senhor.
Não nos esqueçamos, por exemplo, do nome que a nossa pátria recebeu logo após
contar com a chegada dos portugueses: Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz.
É, pois, a partir deste fator determinante, que não pode ser visto apenas com o
olhar histórico, como também cultural, social, religioso e político, que
devemos nos debruçar sobre as fontes cristãs, e daí entendermos que brasilidade
de nossa terra é eminentemente católica, sem desprezar os demais segmentos
religiosos que ganharam lugares no credo do povo brasileiro.
Foi participando da Ceia das Bodas do Cordeiro
Eucarístico, ou seja, da Santa Missa, que aconteceu a primeira congregação de
colonizados e colonizadores. Os primeiros, obviamente, sem a devida noção da
magnitude do que ali estava acontecendo; os segundos, de olho perspectivo nas benesses
que a terra recém-encontrada podia oferecer. E, neste disparate de pensamentos,
ali já estava a Igreja fazendo o seu papel de mãe no acolhimento aos que
desejavam filiar-se ao número dos eleitos da Nova Aliança, através do
Sacramento do Batismo. E, no alçar voo da História de nossas plagas
brasileiras, tem a Igreja uma presença única, marcante, sendo voz para os que
são emudecidos pela sociedade, procurando a vez para os que são tidos como
refugo desta.
Ao recordar-vos o advento desta nossa terra brasileira,
pretendo tratar nesta nossa reflexão acerca da laicidade do Estado da República
Federativa do Brasil. E, a partir da macro-instância que é a de âmbito Federal,
exortar-lhes, senhores prefeito, vice-prefeito e vereadores, bem como às outras
autoridades que aqui se encontram, para que façam valer dos seus mandatos um
verdadeiro ministério em prol de todos os cidadãos, indistintamente. Na
recordação das bases cristãs sobre as quais se ergue o Brasil, valorizamos os
nossos ancestrais que, com a sua fé, nos proporcionaram chegarmos aqui.
A Carta Magna Brasileira possui em seu bojo
referências sobre Deus, o que é muito louvável em uma constituição moderna como
a brasileira, datada de 1988. Desde a primeira Constituição republicana, em
1891, o Estado brasileiro declara-se laico. Com tal denominação, rompia-se a
aliança existente entre Trono e Altar, o que fazia com que as instituições
Igreja e Estado se confundissem. Não pretendo dar aulas de História do Brasil
com esta minha homilia, mas lembremo-nos de que a forma de governo republicana,
no momento em que foi conquistada sob a liderança do Marechal Deodoro da
Fonseca e Benjamin Constant foi alavancada pela Igreja, graças a algumas
problemáticas na Coroa de Pedro II. Porém, ao declarar-se laico o Estado nunca
quis prescindir-se de Deus, apenas não queria estar atrelado a instituições
outras, ainda que religiosas, sem, no entanto, desmerecê-las. Em relação à
Igreja Católica, por exemplo, até os nossos dias, o respeito e a colaboração
para a dignidade de todos é um dos elementos comuns para as atividades destas
distintas, mas prestigiadas instituições. Cada uma com a sua função, com sua
metodologia de exercício, mas com a mesma preocupação: o homem. O Estado, por
ver neste o cidadão; a Igreja, por vê-lo imagem e semelhança de Deus. Ambos,
por verem o ser humano como dotado de dignidade íntegra.
A Igreja Católica nunca olvidou desta laicidade do
Estado. Repudia, no entanto, as atitudes de laicismo. Mas qual a diferença?
Laicidade é fazer do Estado uma instituição desprovida de credo, de religião
oficial, mas que tenha respeito pelo sagrado, pela religião que seus súditos
professam. Laicismo é uma ojeriza estatal de tudo o que é religioso ou faz
referência a Deus. O laicismo, por exemplo, é capaz, até mesmo, de matar a
cultura e a identidade dos povos, beirando, inclusive, ao ateísmo.
Na abertura desta homilia, recitava um versículo do
salmo 33, versículo 12: “Feliz a nação, cujo Deus é o Senhor, e o povo que
escolheu por sua herança”. Pois bem, se viestes a esta Catedral para, ao serdes
empossados para os vossos cargos, agradecerdes a Deus pelo ministério (chamemos
assim à gestão que ora iniciais), é porque tendes acesa no coração a chama da
fé. Se isto não acontece, estais fazendo deste momento sagrado, desta Liturgia,
um momento apenas social, de status; uma representação. Mas, pelo que vos
conhecemos isto passa por longe! Sabemos que estais aqui para colocar à
disposição do Altíssimo os vossos mandatos. Estais comungando, não da tradição
de vossos munícipes, mas da mesma fé deles, ou pelo menos da sua maioria, dos
católicos: é a fé da Igreja de Cristo. Por isso, sois felizes, pois não apenas
ofereceis a vossa vida e trabalhos, mas o povo a vós confiado no Altar do
Senhor. Com esta atitude, não sois felizes individualmente, mas estais
implorando ao Senhor progresso, prosperidade para o povo bom de Campina Grande.
Estas vossas atitudes são práxis de um Estado laico, que respeita as religiões,
os credos e não relega ao esquecimento a vida espiritual dos seus governantes.
Isto é respeito ao nosso povo.
Trago no coração o que dizia o filósofo francês Jacques Maritain e o seu conceito de democracia. Em sua obra Cristianismo e Democracia, Maritain afirma: “A democracia é de essência evangélica”. Assim sendo, ao comentar acerca da construção da cidade fraterna, o Filósofo aposta que esta deve fundamentar-se no amor entre os homens e também nos meios e trabalhos que estes empreendem. A obra desta cidade seria realizar uma vida comum terrena, um regime temporal verdadeiramente condizente com a dignidade da pessoa humana. Logo, ela seria orientada para uma realização sócio-temporal dos valores universais embutidos no Evangelho, que, com certeza, se aplicariam a uma obra comum profana, mas de espírito cristão. Mas, o que assistimos de fato nas democracias em todo mundo? Dentre tantos disparates, gostaria de referir-me a um que, penso eu, seja o iniciar de tantas desventuras: a queda dos valores.
Quando fazia referência às raízes
histórico-culturais de nosso povo brasileiro, refletia apenas em nossa parcela
de gente. Faz-se mister ter em mente que todo o cabedal que o hemisfério
ocidental possui provém de bases sedimentadas no cristianismo. Mas, com a
liberalidade e o permissivismo moral, alheios ao cristianismo, somos espectadores
de grandes derrocadas, inclusive comportamentais. Muito embora as gerações se
sucedam e com elas a mentalidade tipicamente concernente a elas, é anômalo,
doentio, o que vemos acontecer em nosso cotidiano: notícias da imprensa ou
mesmo constatadas por nós mesmos de transtornos éticos e morais: tudo é
permitido. O pior é que, diante da falta de respeito, muitos dos nossos
legisladores aplaudem e ratificam tais comportamentos desregrados e descabidos
para uma sociedade cujas bases brotam da Cruz do Senhor. Chegam ao ponto de
incitar o ódio às estruturas religiosas, amparados em convicções intimistas e
mesquinhas, viciosas. A banalidade é moda, e, o que é lastimável, torna-se lei.
E, assim, caminha-se para a bestialidade, para o vazio. Basta-nos abrir os olhos
e ver a depressão em tantos jovens, a falta de ideais realmente nobres em suas
mentes. E, o limite para a migração de um Estado laico para um que seja
laicista torna-se um frágil filete.
Caros amigos, devemos ser profetas do bem. Não apenas do bem comum, mas, como detentores de uma fé cristã que inspira uma conduta de vida e de pensamento, devemos ser guardiães da moral e dos bons costumes. Se os valores transmutaram-se, como preconizava Nietzsche ao tecer sobre a morte de Deus, é preciso que nos unamos, Estado e Religião, numa aliança que leve em conta a independência de cada uma das instituições, para darmos a volta por cima. Caso contrário, seremos cúmplices do entorpecimento do que é verdadeiramente fundamental e salutar à vivência em sociedade, a ética, e abeirar-se-á a selvageria.
De todas as flâmulas nacionais, a bandeira
brasileira é a única que porta uma divisa: Ordem e Progresso. Esta frase foi
motivo de muita discussão. Pois, sendo o seu autor Auguste Comte, um
positivista francês, portanto um indiferente ao cristianismo, pedra fundamental
do Brasil, parece querer plasmar o futuro de nossa nação. Até mesmo porque a
frase, se fosse disposta na íntegra, ficaria agigantada para ser utilizada no
pavilhão: “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por meta”. No
entanto, com todo o respeito ao seu autor, podemos, como crentes, dar uma
interpretação diferenciada, levando em consideração os valores morais e éticos
sobre os quais o Brasil se fundamenta desde a sua gênese cristã. Somente chegaremos
a um progresso substancioso se a ordem for levada em conta. Aqui entra o
sentido moral e ético a que nos propomos falar nesta nossa prédica. Porém, se
estes dois elementos não forem eivados pelo amor de Cristo Jesus, e, a partir
Dele, o amor entre os homens (a caridade), a ordem será um faceire, um vazio e,
quiçá, uma opressão, ao tempo em que o progresso primar-se-á pela desumanidade.
Nos auguros de um próspero Ano Novo, invoco a
bênção de Deus sobre vós, para que os vossos labores sejam compartilhamentos da
obra criadora e santificadora de Deus.