Na íntegra: Homilia de Dom Dulcênio na abertura do Sínodo dos Bispos na Fase Diocesana
HOMILIA DA SANTA MISSA DE ABERTURA DA FASE DIOCESANA DO SÍNODO DOS BISPOS
Catedral
de Nossa Senhora da Conceição
Domingo, 17 de outubro de 2021
At 2,1-11 | Sl 103,1.24.29-31.34 | Gl 5,1-24 | Mt 5,13-16
Pe.
Luciano Guedes, vigário geral;
Pe.
João Afonso, coordenador de pastoral;
Queridos
padres vigários forâneos e coordenadores de comissões;
Caríssimos
diáconos e religiosos;
Amados
seminaristas;
Irmãos
e irmãs diocesanos.
Hoje nos reunimos em nossa Igreja Catedral, como Diocese de
Campina Grande, unidos ao Santo Padre o Papa Francisco e em comunhão com toda a
Igreja, para oficializarmos em nossa Diocese a abertura do Sínodo dos Bispos,
convocado por Sua Santidade o Papa e já oficializado por ele na celebração da
Santa Missa na Basílica de São Pedro no domingo passado.
O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, é fruto
do Concílio Vaticano II e visa o envolvimento do episcopado junto ao sumo
pontífice na reflexão dos desafios da Igreja, como afirma São Paulo VI na Carta
Apostólica em forma de Motu Próprio Apostolica Sollicitudo: “Em
nossa época, certamente bastante agitada e cheia de tantos perigos, mas também
aberta às influências salutares da graça divina, a experiência cotidiana nos
ensina que a união com os bispos é útil para o nosso ofício apostólico, o
conforto de sua presença e o auxílio da sua prudência e da sua experiência”.
Dessa forma, o Santo Padre institui – em caráter perene – a
assembleia dos bispos, inspirado na sinodalidade presente desde o primeiro
milênio, vivida e testemunhada pelos Apóstolos e pelos Padres da Igreja que se
reuniam para discernirem, à luz da Palavra de Deus, as questões que se
apresentavam à Igreja.
O Espírito Santo é o protagonista deste
caminho. Por isso, a liturgia desta Santa Missa é
inspirada na celebração de Pentecostes. As leituras que ouvimos foram
escolhidas pelos organizadores do Sínodo junto a Santa Sé, as quais
refletiremos.
A primeira leitura foi extraída dos Atos dos Apóstolos, onde são
relatados os primeiros passos da Igreja nascente. O milagre das línguas é
interpretado como acontecimento escatológico a partir da profecia de Joel 3.
Mas, sobretudo, é o cumprimento da palavra do Cristo (Lc 24,49; At 1,4; Jo
14,16-17). Passa como um vendaval ao ouvido, como um fogo aos olhos, mas
permanece como transformação do “pequeno rebanho” em Igreja Missionária. Também
hoje, a Igreja de Cristo se reconhece pelo espaço que ela dá ao Espírito
e pela capacidade de proclamar sua mensagem.
Diante da mensagem sugerida a partir do texto de Atos que ouvimos,
observamos que a comunhão com o Ressuscitado só é completa pelo dom do
Espírito, que continua em nós a obra do Cristo e sua presença gloriosa.
O cristão é “livre para” o que Cristo deseja:
a dedicação ao irmão, o próximo. Livre para a
corajosa transformação da exploração em fraternidade, para a verdade que
afugenta a mentira, para tudo que o Espírito de Deus nos inspira, os frutos do
Espírito: caridade, alegria e paz (Gl 5,22). E para isso, ele cumprirá a “lei
única”, que contém tudo que é preciso observar: amar o próximo como a si mesmo,
ou seja, como se tratasse de si mesmo. São Paulo chega a dizer que a liberdade
consiste em tornamo-nos escravos de nossos irmãos... (Gl 5,15).
Como discípulos de Cristo, ele nos pede que sejamos “sal da terra”
e, para ser sal da terra, temos que ser sal na vida cotidiana dos homens.
Nós, participantes do Corpo de Cristo, somos impulsionados a testemunhar aos
irmãos nossa experiência com Deus. A Eucaristia é expressão máxima de comunhão:
alimentados por esse Sacramento, somos impelidos a sairmos em missão, como nos
recorda o conhecido canto: “A Missa terminou
começou nossa missão, Senhor que nossos
atos vos provem nosso amor, transformem nossas vidas num hino de louvor”.
Sendo nós, pregadores das realidades
celestiais, como discípulos de Jesus, daremos a essas realidades temporais o
sabor de eternidade, que faz com que as realidades temporais transcendam na
própria dimensão limitada.
Porém o Senhor adverte que se o sal perder o seu sabor, se perder
o poder que tem, por sua própria natureza, de preservar da corrupção, para que
servirá, então?
Os discípulos do Senhor também devem ser luz. Cristo é a
verdadeira luz que ilumina todo homem (Jo 1,9; 8,12) mas quis que os homens participassem
de sua luz, a fim de que pudessem, por sua vez, transmitir a luz para os
outros.
A natureza da luz é derramar a claridade e fazer desaparecer as
trevas, até onde o esplendor de sua claridade alcançar. O mundo estava situado
longe do conhecimento de Deus e na escuridão do erro: por intermédio dos
apóstolos, como que através de tantas lanternas, penetrou nos homens a luz da
verdade do Evangelho, o conhecimento de Deus e de seu Filho Jesus Cristo.
Os apóstolos de hoje somos nós, por escolha
expressa do Senhor Jesus. Ele quis destinar-nos a sermos lanternas que
iluminam.
Não diga que você não tem qualidades para ser luz do Evangelho; o
esplendor da glória dinâmica de Deus manifesta-se nas obras dos seus filhos e
convida a todos a encontrar-se com o Pai.
Não basta que vivamos uma vida que em si é um
sinal, é preciso que a realidade, assimilada por essa vida, seja o que o
significa, que maneira que todos os que nos vejam possam se convencer da
realidade salvadora do Evangelho.
A XVI Assembleia Ordinária Sínodo dos Bispos, possui como tema a própria
sinodalidade da Igreja. O Sínodo dos Bispos é uma assembleia
da Igreja que reúne os bispos sob a condução do Sucessor de Pedro, isto é, o
Papa, com a finalidade de refletir – de maneira conjunta – a caminhada e temas
relevantes para o bem da igreja e da humanidade. A palavra sínodo, vem do grego
sýnodos, junção das palavras Syn, “junto”, e Hodós,
“caminho”, e significa “caminhar juntos”.
É a primeira vez que o Papa estende a
discussão do sínodo dos bispos à toda a Igreja.
Essa nova linha mestra instituída pelo Papa Francisco faz parte do processo de
renovação vida sinodal da Igreja mediante a consulta de todo o povo de Deus. “A
dimensão sinodal da Igreja exprime o caráter de sujeito ativo de todos os
batizados e, ao mesmo tempo, a específica função do ministério episcopal em
comunhão colegial e hierárquica com o Bispo de Roma”, nos diz o documento A
sinodalidade na vida e na missão da Igreja da Comissão Teológica
Internacional.
O Papa, com este sínodo, faz um apelo aos cristãos
católicos, ao chamar-nos à unidade, à comunhão, à fraternidade
que nasce da consciência de nos sentirmos abraçados pelo único amor de Deus; é por
essa razão que todas as dioceses do mundo inteiro, assim como a nossa, sob este
bispado, estão abrindo o sínodo em comunhão com o Papa, a fim de ecoarmos nossa
parcela de contribuição com toda Igreja.
Em Roma, na Santa Missa
que abriu oficialmente o sínodo, nos disse o Papa Francisco: “Fazer
Sínodo é colocar-se no mesmo caminho do Verbo feito homem: é seguir as suas
pisadas, escutando a sua Palavra juntamente com as palavras dos outros. Sejamos
peregrinos enamorados do Evangelho, abertos às surpresas do Espírito Santo”.
Prezados, o Papa
insiste no Encontro, na Escuta e no Discernimento. E com estas
disposições ora iniciadas pelo Papa e agora aqui em nossa Igreja Particular,
pretendemos caminhar unidos em oração prezando pela estrita unidade eclesial
que se dá a partir da voz do Pastor Diocesano. Ouçamos queridos sacerdotes,
diáconos, religiosos e religiosas, seminaristas, forças vivas da nossa Igreja,
ouçamos o Espírito Santo que quer falar-nos!
O princípio da sinodalidade é a unidade. A imagem dos
apóstolos junto à Virgem Maria no cenáculo, perseverantes na oração, sobre os
quais “desceu” o Espírito Santo, é exemplo inspirador do caminho sinodal.
Suplicamos a presença da Mãe de Deus neste processo que hoje iniciamos: que por
sua intercessão o Santo Espírito venha sobre nós e seja o agente protagonista
desta nossa peregrinação.
Divino Salvador Jesus Cristo...
-----------------------------------