Mensagem de Dom Dulcênio Fontes de Matos para a Campanha da Fraternidade 2021

Atualizado em 19/02/21 às 14:395 minutos de leitura521 views

TEXTO DE ABERTURA DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE NA DIOCESE DE CAMPINA GRANDE

Quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021.

V Campanha da Fraternidade Ecumênica

Tema: “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor.” Lema: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade.” – Ef 2,14.  

            Prezados irmãos e irmãs,

A Campanha da Fraternidade foi realizada pela primeira vez em nível nacional em 1964, com o objetivo de uma vivência mais intensa por parte dos cristãos, de temas específicos, sobretudo ligados à Doutrina Social da Igreja. O fato da Campanha ser aberta no tempo litúrgico da Quaresma, é para que se visualize que nosso processo de conversão permanente passa também por atitudes comprometidas com os irmãos e que a dimensão sócio-transformadora é indispensável à nossa vivência do Evangelho.

Desde o ano 2000, a cada cinco anos, a Campanha da Fraternidade é Ecumênica, ou seja, envolve em sua elaboração e execução, pessoas de outras confissões cristãs, que, comprometidas com o Evangelho estão empenhadas na busca da fraternidade, da paz e da justiça, em nosso país.

Este ano a V Campanha da Fraternidade Ecumênica tem como tema: Fraternidade e diálogo: compromisso de amor, inspirado no lema bíblico extraído da Carta de São Paulo aos Efésios, capítulo 2, versículo 14: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”.

O apóstolo escreve sobre o tema da divisão utilizando a imagem de um muro que havia no templo de Jerusalém para separação dos judeus e dos gentios. Na Igreja primitiva surgiu uma querela quanto ao anúncio do Evangelho de Jesus, se seria somente aos judeus ou também aos gentios.

Embora hoje tenhamos uma clara compreensão de que a salvação anunciada por Jesus é para todos e que essa é nossa missão evangelizadora, no início não foi tão simples de se resolver, tendo em vista que Jesus e seus apóstolos eram todos vindos do judaísmo.

Enfim, sabemos como a questão foi resolvida: o Evangelho foi anunciado a todos os povos e, sobretudo com a força de Pentecostes, os discípulos de nosso Senhor, intrepidamente avançaram na transmissão da fé a todos.

Sob essa inspiração, a Campanha da Fraternidade deste ano nos põe em reflexão quanto aos vários temas ligados à paz que vem de Deus e é o próprio Jesus. Ele mesmo é a nossa paz (cf. Ef 4,14)! Evangelizar é também assumir o compromisso concreto com a paz.

Na busca desta paz, refletimos este ano sobre os possíveis caminhos para o diálogo e a construção de pontes de amor em lugar de muros de ódio, como nos exorta o Papa Francisco, na Encíclica Fratelli Tutti sobre a fraternidade e a amizade social (n. 27). O diálogo só existe a partir da virtude da humildade, numa atitude de escuta, valorização do outro, respeito pelas diferenças e acolhimento no amor cristão.

A paz não é somente a ausência de guerra e de conflitos entre as nações, mas um caminho de superação das desigualdades entre as pessoas, fim de toda polarização e violência, que se dá através do diálogo amoroso e testemunhando a unidade, apesar de nossas diferenças em todos os sentidos.

Para que isso aconteça de maneira visível e testemunhal é preciso um encontro forte e verdadeiro com Jesus, nosso Senhor, que é a nossa paz. Esse encontro é experimentado através do diálogo com ele na oração, na vivência dos sacramentos e na vida comunitária. Então poderemos dizer como os discípulos de Emaús que o nosso coração era abrasado quando Ele nos falava (cf. Lc 24,13-35).

A pandemia da COVID-19 que assola a humanidade há um ano e tem causado tanto sofrimento é também uma oportunidade para nossa reflexão sobre a fraternidade. Ninguém se salva sozinho! Quanto mais somos irmãos, pensamos no outro, cuidamos do coletivo, respeitamos e, consequentemente, somos protegidos e preservados.

Os testemunhos de fraternidade e ação social em socorro dos mais pobres, especialmente falando de nossa Diocese, são provas de que nossa fé nos move a sermos responsáveis uns pelos outros e que Cristo está presente e caminha conosco quando saímos de nosso egoísmo para o itinerário da partilha e do amor ao próximo.

As desigualdades sociais e todas as formas de preconceito, a violência e os extremismos, não fazem parte do projeto de amor de Deus. “A fé em Jesus Cristo é o vínculo que une a comunidade e garante que experimentemos os sinais do Reino de Deus entre nós: o amor, a benevolência, o perdão, a liberdade e a graça (cf. Ef 1,3-8)” – Texto Base CF 2021, n. 113.

Na língua hebraica, a palavra “paz” é dita pelo termo “Shalom”, no entanto, sua tradução é muito mais ampla, significa vida plena, abundância de todos os bens, riqueza de bênçãos da parte de Deus. Portanto, concluímos que a busca da paz proposta por Jesus e pela Sua Igreja ao longo dos séculos, bem como pela Campanha da Fraternidade deste ano, passa pelo acesso a todos os bens materiais e espirituais para uma vida digna neste mundo e a feliz bem-aventurança eterna: “felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5, 9).

Com a reflexão desta Campanha da Fraternidade, convido a todos a darmos passos ainda mais firmes no caminho da fraternidade e do diálogo, nos trabalhos missionários e evangelizadores, na ação sócio-transformadora e na busca da paz e nossas famílias, comunidades e sociedade.

Caros irmãos e irmãs, queridos diocesanos, rezemos, pedindo para nós, o que São Paulo pediu para a Comunidade de Efésios: “o Deus de nosso Senhor Jesus cristo, o pai da glória, nos dê um espírito de sabedoria e de revelação, para podermos realmente conhece-Lo. Que ilumine os olhos de nossos corações, para sabermos qual é a esperança que Seu chamado encerra, qual a riqueza da glória da nossa herança entre os santos e qual é a extraordinária grandeza de Seu poder por nós, os que cremos, conforme a ação do Seu poder eficaz” (Ef 1,17-19).

Dom Dulcênio Fontes de Matos Bispo Diocesano de Campina Grande

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