Fé, Diálogo e Participação Política

Postado em 18/02/21 às 10:423 minutos de leitura373 views

“Se houver em teu meio um necessitado entre os irmãos, em alguma de tuas cidades, na terra que o senhor teu Deus te dá, não endureças o coração nem feches a mão para o irmão pobre.” Deuteronômio. 15, 7 “Ama-se tanto mais eficazmente o próximo, quanto mais se trabalha em prol de um bem comum que dê resposta também às suas necessidades reais.” Papa Bento XVI - Caritas in Veritate, n°7

A Fé Cristã é profundamente comunitária e solidária, por causa do Deus de amor e misericórdia e a sua vivência só pode se traduzir na co-responsabilidade por todos e todas da comunidade, da casa comum; por isso a preocupação com vida plena deve estar no centro da comunidade cristã e da vida de cada cristão. Ser cristão é antes de mais nada, ser um seguidor, aderir a um caminho, uma proposta de vida, uma conversão diária, e este caminho não exclui ninguém, a boa nova é para todas e todos, o chamado ao amor e ao perdão que transforma a vida e todas as estruturas desumanas. Ser cristão é ser profundamente humano e ao mesmo tempo participe de toda a obra da criação. Fé num Deus que tudo cria e cria por amor e nos chama a cuidarmos de toda a sua criação e a testemunharmos o seu amor.

Ser cristã, cristão em uma sociedade desigual, excludente, de muitas discriminações e violências, níveis de desemprego altíssimos e outras situações socioeconômicas excludentes é se comprometer a trabalhar pelo bem comum. Assim como o Papa Bento XVI nos faz refletir com a sua encíclica Caritas in Veritates, o amor tem consequências, quem ama demonstra e luta pelo próximo e quem é o próximo? Aquele que perdeu o emprego? Que vive nas ruas? O que é mal remunerado? Os sem casa? Os sem terra? Os imigrantes? Os que passam fome? E tantos outros/as. Nestas situações somos chamados a testemunhar o amor na luta por políticas públicas e econômicas que coloquem a dignidade humana no centro e não permita que ninguém fique fora da mesa. É lutar para que a sociedade seja menos desigual e garanta a igualdade de oportunidades para todos e todas. Por isso a participação política é um dever do cristão/ã, atuando politicamente a favor de uma agenda que garanta trabalho digno e renda, educação e saúde, moradia e transporte, lazer e liberdades para todos e todas. Só é possível este empenho e esta consciência política, quando nos sentimos irmãos, irmãos não só de nome, irmãos de verdade, como Dom Helder Câmara diz na sua oração Mariana.

Participação política em uma sociedade plural, de várias tendências políticas, ideológicas e religiosas é não abrir mão do diálogo. É assumir o chamado do Papa Francisco por uma Cultura do Encontro e do Diálogo, acrescento por uma cultura democrática. Vivemos no Brasil e pelo mundo um momento de muito extremismo, desrespeito, desconstrução de quem pensa diferente, de anulação do outro/a, de ódio e violências verbais, psicológicas e físicas, e como testemunhas do amor de Deus, devemos lutar com toda força pela cultura do diálogo e da convivência, pela cultura de resolver os diversos conflitos pela via da não violência. Vivermos em um ambiente onde é possível que os contrários, os que discordam, os que pensam e tem opções políticas ou religiosas diferentes, vivam em paz e encontrem, quando possível, pontos comuns para lutarem juntos/as.

Para concluir sem conclusão, é importante refletir que independente da opção política que cada cristão/ã se identifique e siga, o chamado do amor nos faz comprometidos com a busca do bem comum e com a construção de uma sociedade justa, fraterna, economicamente e ecologicamente sustentável.

Com o Papa Francisco, trabalhemos para que toda família tenha terra, teto e trabalho. Fica a sugestão para a leitura e meditação do capítulo 65 de Isaías.

Paz e bem!

Roberto Jefferson Normando Coordenador da Escola de Fé e Política Dom Manuel Pereira Membro do Encontro Economia de Francisco Membro da Rede de Assessores/as do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara - CEFEP/CNBB    

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