Eu vi e dou testemunho

Atualizado em 25/06/19 às 11:395 minutos de leitura376 views
Jesus não nasceu para permanecer indefinidamente no frio presépio, mesmo que sintamos a necessidade de viver este Tempo Comum da Liturgia com o espírito do Advento e Natal do Deus conosco; Muito menos desceu Jesus para ficar entre os aromas do incenso, na fragilidade humana simbolizada pela mirra ou na realeza que resplandece no ouro; Não fez Deus sua aparição em nossa carne humana, para contentar-se com a acolhida dos humildes pastores e a visita real dos Magos. O Deus desconhecido, vemos pela liturgia da Palavra deste Domingo, segundo do Tempo Comum, que começa a revelar-se e a deixar-se conhecer. Conhecer a Deus é entrar em sua intimidade. Ter experiência de sua presença e, portanto, fecundar toda nossa vida com sua Palavra e o sopro divino do seu Espírito. Quando nos envergonhamos de certas atitudes pessoais ou amorais em nossa vida, no fundo, é porque não conhecemos totalmente o Senhor. Porque, Deus, não é o centro do nosso viver e do nosso pensar. Deus, que se nos tem revelado humildemente em Belém, está ao alcance de todos aqueles que intentamos buscá-lo com toda sinceridade do coração. Continuando o clima de “Epifania”, manifestação de Jesus e de sua missão, depois de batizado no Jordão, quando o Pai apresentou Jesus como seu Filho muito amado (cf. Mt 3,17). Neste Domingo, no evangelho (cf. Jo 1,29-34) aparece João Batista dizendo que não conhecia Jesus, como também hoje Ele não é conhecido em muitos lugares e inclusive para alguns cristãos. João o descobriu graças ao Espírito que foi quem o revelou: “Eu vi o Espírito descer, como uma pomba do céu, permanecendo sobre ele.” (v. 32) Como cristãos, temos de estar atentos a esse Espírito, para ver o Cristo que se revela nos simples, pobres e humildes. Se o Batista, não o conhecia: “Também eu não o conhecia” (v. 33), quer chamar com sua redundância a buscar Aquele que nasceu no meio de nós, semelhante a nós em tudo menos no pecado, pois é o Salvador do mundo. O verdadeiro conhecimento do rosto de Jesus no mundo se descobre pela abertura pessoal ao Espírito. A liturgia ao longo do ano dará pautas e momentos para que a cotidianidade se converta em eterna natividade de um Deus sempre conosco. Só o Espírito pode levar o seguidor de Cristo a proclamar, como João: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” João dá testemunho. Para o evangelho, a fé é antes de tudo essa experiência viva e testemunho dessa experiência, antes que adesão a uma doutrina, ou dogmas, ou ritos, ou moral. João Batista insiste em que ele viu o Messias: “Eu vi e dou testemunho, este é o Filho de Deus!” (v. 32.34) Duas imagens, portanto, nos falam de Deus neste Domingo: a “luz” e o “Cordeiro”. O profeta Isaías (cf. Is 49,3.5-6) nos descreve a missão de Cristo em uma bela profecia: “Tu és o meu servo, Israel, em quem serei glorificado... Não basta seres meu servo... Eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até os confins da terra” (vv.3.6). Esta profecia se refere a um “servo de Iahweh”. São muitos os comentaristas que pensam que o “servo de Iahweh” é o verdadeiro povo de Israel, embora, nós os cristãos, sempre vimos prefigurado no “servo de Iahweh”, Jesus de Nazaré. Pois bem, o Messias deve ser para todos nós a luz principal que guie nosso caminhar neste mundo. Quer dizer, que Jesus deve ser nosso caminho para chegar ao Pai, Deus, é a Luz que nos ilumine durante o caminho. Isto, em nossa sociedade não é algo fácil, já que os valores que se vivem na sociedade atual são valores econômicos, ou políticos, ou desportivos... mas, quase nunca religiosos. Fazer que seja o Espírito de Jesus que guie nosso caminhar nos exigirá viver em muitos momentos contra os valores que atualmente se pregam. Por isso os cristãos temos que nos acostumar a viver hoje como minoria em face da maioria dos cidadãos. Respeitando sempre os outros, mas não aceitando tudo o que falam constantemente. Que o Espírito de Jesus seja nossa verdadeira luz, a luz que nos guie a nós e a luz com a qual nós intentemos guiar os outros. Jesus, o autêntico “servo de Iahweh", será apresentado por João para levar a cabo a missão que o Pai lhe encomenda: “É o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Jesus carrega os pecados de seus irmãos, a humanidade toda e se oferece, mesmo inocente, para expiar por ela. Ele é quem restabelece a relação do homem com Deus, fazendo que o homem e a mulher se reconheçam de novo como seus filhos. Infelizmente, muitos cristãos não fizeram essa experiência de Cristo, não “viram” o Senhor, e sem “ver” é muito difícil testemunhar, falar, nem convencer a ninguém. A crise religiosa que vivemos hoje tem muito a ver com esta falta de “testemunho” vivo do Evangelho. E por isso, entre outros muitos fatores, muita gente deixou de crer na Igreja. Há muitos cristãos batizados, mas poucos convencidos e convertidos, poucos que tenham tido experiência de Jesus Cristo. Mais que nunca, hoje necessitamos ser “testemunhas” de Cristo, contagiar o amor que transformou nossas vidas. É fundamental formar comunidades cristãs acolhedoras, onde seja possível viver experiências profundas de oração, de escuta da Palavra de Deus, que estejam perto e solidárias com o sofrimento dos pobres, que vivam de verdade os sacramentos, sobretudo, a Eucaristia. Que possam dizer de nós: aí está um cristão porque nota que Cristo está em sua vida, porque irradia seu amor, sua paz, sua alegria, sua bondade. Jesus é quem tira o pecado do mundo. Não fala o evangelho do pecado de cada ser humano, mas sim do pecado do mundo. Ao tirar o pecado do mundo nos liberta da força da fatalidade, desdramatiza a história humana. O que é este pecado do mundo? Este pecado justifica estruturas que fazem duradoura a realidade do mal. No mundo há uma realidade que chamamos mal e que vai além do que cada um de nós faz. Contudo, é o resultado do egoísmo humano e da ausência de fraternidade. Mas o cristianismo diz que o mal não faz parte nem do projeto criador, nem do próprio ser das coisas, nem de uma espécie de fatalidade. Que Jesus seja quem tira o pecado do mundo quer dizer que nada está definitivamente perdido… tudo pode ser salvo, que tem sentido nosso esforço por recuperarmos, por responsabilizar-nos ante a ação do mal que prejudica o inocente. Esta é a missão de Jesus. Alguém espera, necessita que também essa seja a nossa missão como cristãos.

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