Dom Dulcênio Fontes de Matos emite Carta aos seus Padres

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Campina Grande, 04 de agosto de 2020, Memória do Santo Cura d’Ars

Queridos irmãos Padres,

Chamá-los assim, tão carinhosamente, tal como o vocativo mais frequente utilizado pelo Santo Povo de Deus, “Padre”, é uma síntese de toda a responsabilidade do seu ministério sacerdotal.

A paternidade espiritual, como um dom de Deus, só pode ser desenvolvida frutuosamente se, como o próprio Cristo, imolar-nos em serviço de louvor a Deus, em benefício do Seu rebanho. E isto, percebo nos senhores, principalmente nestes dias tão difíceis, exigentes para a nossa missão. Saibam que, mesmo sem verem os seus rostos como viam anteriormente à pandemia, os nossos fiéis não se sentiram abandonados, órfãos, porque, diariamente, no Sacrifício Eucarístico, na récita religiosa da Liturgia das Horas e em tantos outros ofícios pertinentes ao seu ministério, os senhores carregavam os seus paroquianos num coração de pastor que anseia assemelhar-se ao de Jesus.

Padres, para escrever estas poucas linhas, pensei muito – e com serenidade – em tantos irmãos nossos que, também em momentos difíceis, levaram a bom termo o seu ser sacerdote com toda a sua capacidade. Deparei-me com homens igualmente valorosos aos senhores. E se fosse, ainda mais, precisar a minha reflexão na história universal e da Igreja, demorei-me nos campos de concentração nazistas, onde, em virtudes heróicas, encontramos homens que se anularam, se fizeram “tudo para todos” (1Cor 9, 22), deslocaram-se de si mesmos, fazendo pouco caso de suas existências, arriscaram-se para minorar dores e levar esperança a tantos corações. De uma maneira diferente, isto também aconteceu pelo esforço dos senhores de estar à disposição dos outros filhos de Deus, cujos cuidados lhes são confiados.

Pelas mídias ou mesmo no silêncio das suas orações pessoais, souberam levar conforto, anunciando o Cristo pelo testemunho de sua fé como transparência da Fé da Igreja. E se o nosso povo não pôde ir à Casa de Deus, os senhores não deixaram de apresentar o coração dos fiéis para que Deus, ali, Se fizesse presente, oferecendo-o como oferta agradável, como perfume odoroso de vida (cf. 2Cor 2,16).

Neste dia do Santo Patrono dos padres, São João Maria Vianney, desejo que este amor palpitante nos senhores aumente ainda mais, pois nunca estaremos à altura dos sentimentos de Cristo para com a Sua Igreja; porém, sempre podemos nos esforçar para darmos mais de nós à causa de Deus. Que o Cura d’Ars, no seu incansável zelo por sua outrora difícil paróquia, nos ensine a transformar a realidade em nosso derredor, principalmente se ela é adversa ao nosso grande ardor, abrindo-a ao acolhimento de Cristo e dos Seus mistérios. E recordo-lhes: o nosso povo não espera nada mais e nada menos do que ver nos senhores, santos padres. Um padre que tenta viver a santidade faz ainda mais santo o povo de Deus, as almas que lhe são confiadas à filiação.

Com o meu grato abraço,

Dom Dulcênio Fontes de Matos Bispo de Campina Grande

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