Dom Dulcênio emite carta sobre Dom Mário

Atualizado em 04/06/20 às 10:094 minutos de leitura384 views

Faleceu durante a tarde, desta quarta-feira (3), em Aracaju-SE, aos 78 anos, o bispo emérito, da Diocese de Propriá, Dom Mário Rino Sivieri, amigo de Dom Dulcênio. Com o falecimento de Dom Mário, Dom Dulcênio emitiu uma carta, em que remete à trajetória de Dom Mário, bem como, fala na importância que o bispo emérito de Propriá teve para sua vida.

 

Campina Grande 03 de junho de 2020, Memória de São Carlos Lwanga e companheiros mártires.

Caros amigos,

Ao tomar a ciência da morte de Dom Mário, uma forte emoção me toma, a tal ponto de querer expressar-me com palavras que me fogem, porque são insuficientes para manifestar a minha gratidão e as minhas muitas lembranças junto àquele a quem sempre teremos na conta de o "eterno Pároco de Lagarto".

O que dizer de Dom Mário? Creio que os feitos deste sacerdote zeloso frente à mui estimada Paróquia Nossa Senhora da Piedade falem bem melhor do que eu. Como não recordar o Cura de almas que tocava os corações da nossa gente com seu sotaque carregado de "italianismo", embora com o seu timbre enérgico e claro, falando, em suas pregações, daquilo que era a sua leitura predileta: a vida dos santos? As suas devoções incrementaram a fé do devoto povo lagartense. O seu carinho nos preparativos para o tricentenário da Paróquia de Lagarto, que comportou a restauração da imagem da Virgem da Piedade, obra-prima que nos representa e toca no brio da nossa fé, bem como a sua coroação canônica no encerramento do Congresso Eucarístico, naquela que foi a maior expressão religiosa que Lagarto jamais viu. A sua preocupação pastoral junto às comunidades rurais: foi um grande construtor, de maneira que dotou o interior da sua Paróquia de inúmeras capelas. Isso sem falar nas suas realizações na sede paroquial.

O que dizer de Dom Mário? Homem preocupado com a dignidade humana. Fundador de duas unidades, dentre as primeiras do Brasil, da Fazenda da Esperança na sua querida Lagarto. Posteriormente, como Bispo de Propriá, repetiu o feito na fundação da unidade de Gararu. Dom Mário, não obstante a sua venerável idade, fazia-se jovem com aqueles jovens, ao tempo em que se fazia pai deles. E não apenas com os jovens recuperandos, também com aqueles que integravam o grupo de jovens (GRUJAC), do qual eu fazia parte em minha mocidade, e que rendeu como frutos muitos adultos conscientes de sua fé e da necessidade de serem bons cristãos no mundo.

O que dizer de Dom Mário na sua preocupação com a cultura? Foi na sua época que melhor floresceu o Colégio Cenecista Laudelino Freire, do qual foi diretor por muitos anos. Também foi lá que ele marcou a minha vida quando dos meus estudos...

E, falando em vida, o que dizer do grande promotor vocacional, Dom Mário? Como resultado do seu trabalho, somos três bispos, dezenas de sacerdotes e outro tanto de religiosas que sentimos o chamado à messe do Senhor (cf. Mt 9,38) por meio deste que honramos como "servo de todos" (tal como se estampa no seu lema episcopal). Também como Bispo de Propriá, não se acomodou em, na voz de Cristo, incomodar corações para o apascentar.

O que dizer de Dom Mário, o amigo que, ao longo dos anos e das experiências, aprendi a amar? Mesmo com a dificuldade do seu forte temperamento, Dom Mário me cativou. E ainda que no começo a nossa relação fosse um pouco tumultuada pelo seu descrédito no chamado de Deus para a minha vida, à medida em que Nosso Senhor exigia mais de mim, o meu antigo Pároco esteve ao meu lado, fazendo-me ler a minha própria história e o meu futuro "para a vida do mundo" (Jo 6,51), lema episcopal que me auxiliou a escolher. E no parágrafo amizade, quantas recordações que me trazem lágrimas de quando um filho chora a morte de um pai...

A história de Dom Mário se cruza com a de muitos lagartenses, haja vista os seus 29 anos de paroquiato e o seu grande amor às plagas de Nossa Senhora da Piedade. O seu sentimento por nossa terra era tamanho, que quis passar os últimos anos de sua vida naquela que elegeu para ser a sua "Betânia", o lugar de seu descanso. Diante de tudo o que representa para nós, qual prêmio poderíamos desejar para o nosso Pastor senão o Daquele que, no Evangelho de hoje, aludindo à Vida Eterna, diz ser Deus dos vivos e não dos mortos (cf. Mc 12,27), pois, para Ele, todos vivem?

Sim, Dom Mário, receba o merecido descanso por parte do Senhor! Ele, que sempre o encorajou a largar tudo - a sua Itália, a sua família -, para se tornar um entre nós, também lhe coroe com a imascersível coroa da glória, tal como representa a mitra.

Aproveito para reafirmar as minhas condolências aos seus familiares, à Diocese de Propriá e à querida Paróquia de Lagarto. Que a fé no Ressuscitado console-nos!

Dom Dulcênio Fontes de Matos Bispo de Campina Grande

 

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