Assim é Deus

Atualizado em 25/06/19 às 09:245 minutos de leitura499 views
Estamos neste IV Domingo no coração da Quaresma e do Evangelho de São Lucas. Diante de uma das páginas mais belas do Evangelho, talvez nenhum texto revele tanto o rosto misericordioso de Deus como este:  A “parábola do filho pródigo” (cf. Lc 15, 11-32) que alguém considerou “o evangelho dos evangelhos”. É a mais longa das parábolas de Jesus, impregnada duma finíssima psicologia própria de quem a contou, que conhece a infinita misericórdia do coração de Deus, que é o seu próprio coração e que sempre penetra e toca as fibras mais profundas do coração e da alma humana, onde se desenrola o tremendo drama do pecado. A história como tal, é muito simples em seu desenvolvimento: Um jovem, inexperiente decide viver sua vida em outro lugar, longe da casa paterna. A sua situação se torna penosa quando sem recursos, numa terra estranha e diante de uma grande fome o jovem é obrigado a trabalhar, cuidando de porcos, entrando em si mesmo começa a refletir sobre sua condição e sobre o que perdeu. Vendo-se fora da casa de seu pai toma consciência da sua condição de escravo e decide voltar para casa. A reação do pai é inesperadamente acolhedora, terna e generosa no perdão. Arrependimento, vergonha e saudade no filho pródigo; egoísmo e inveja no irmão mais velho. Por cima de tudo, o amor incondicional de um pai que é o protagonista da parábola. Um homem sempre disposto a perdoar e que espera contra toda esperança o regresso do filho ausente. Antes de tudo faz admirar a sua tolerância em face da decisão do filho mais jovem de ir embora de casa: teria podido opor-se, sabendo que era muito imaturo, ou procurar algum advogado para não lhe dar a herança, estando ainda vivo. Ao contrário, permite que ele parta, mesmo prevendo os riscos possíveis. Assim age Deus conosco: deixa-nos livres, até de errar, porque ao criar-nos concedeu-nos o grande dom da liberdade. Compete a nós fazer dela um bom uso. O pai também confia conquistar o coração do filho mais velho que nunca abandonou o lar, mas que vive ali como um estranho. O pai vai ao encontro também desse filho e recorda-lhe que eles estiveram sempre juntos, têm tudo em comum, mas é preciso receber com alegria o irmão que finalmente voltou para casa. Estes irmãos não assimilam sua condição de filhos porque não conseguem compreender o amor e a generosidade de seu próprio pai e dai que, ao recusar sua pertença ao pai e à casa paterna, não se sintam  tampouco como irmãos. A figura do pai da parábola revela o coração de Deus. Ele é o Pai misericordioso que em Jesus nos ama além de qualquer medida, espera sempre a nossa conversão todas as vezes que erramos; aguarda a nossa volta quando nos afastamos dele pensando que o podemos dispensar; está sempre pronto a abrir-nos os seus braços independentemente do que tiver acontecido. “Pode-se divisar nesta parábola um terceiro filho... Está escondido! É aquele que ‘não considera privilégio ser igual a Deus... aniquilou-se a si mesmo, tomando a condição de servo’ (fl 2, 6-7). Este Filho-Servo é Jesus! É a extensão dos braços e do coração do Pai: Ele acolheu o pródigo e lavou os seus pés sujos; Ele preparou o banquete para a festa do perdão. Ele, Jesus, ensina-nos a ser ‘misericordiosos como o Pai’”. (Papa Francisco) Portanto, a misericórdia de Deus-Pai é a mensagem central da parábola. Nela estes três personagens, bem diferenciados e representando um pouco a todos nós, vão tecendo suas histórias pessoais, para chegar à conclusão desejada por Jesus: Deus é mais misericordioso do que  seus críticos, os fariseus e doutores da lei, imaginam. Oferece sempre a todos a possibilidade de um perdão que restaura a pessoa para uma vida nova. A “parábola do filho pródigo”, título discutível, por muitos que a interpretam chegando a propor que melhor seria chamá-la “parábola do amor do Pai”, é uma história da vida. O pai não é Deus, mas um pai terreno. Todavia, através de algumas expressões, brilha nele, pelo seu amor, a imagem de Deus. A parábola descreve com simplicidade: Assim é Deus, tão bondoso, tão cheio de misericórdia, tão superabundante no amor. Ele se alegra com a volta do perdido como o pai que organiza com alegria a festa. A parábola endereça-se a pessoas que se parecem com o irmão mais velho, isto é, há pessoas que se escandalizam do Evangelho. Devem ser atingidos na consciência. A eles Jesus lhes diz. Tão grande é o amor de Deus aos filhos perdidos, e vocês aí ficam sem participar da alegria, sem amor, sem gratidão e com o sentimento de auto-justificados. Sejam também vocês misericordiosos! Não sejam assim tão sem amor! O que não podemos esquecer da mensagem desta parábola é que Deus não é só é um Deus paciente, mas, misericordioso e se alegra pelo filho que volta. Ele quando regressamos à casa, salta de alegria e ao contrário de muitos de nós, sua alegria é por aquele que se livra das garras da mediocridade ou da frieza do mundo para retornar e viver definitivamente na sua casa. Talvez os “filhos pródigos” desta parábola, estejam representando esta nossa sociedade, caprichosamente independente, que intenta criar seu futuro, fazer sua história sem Deus, sem Pai, sem Amor. As pessoas podem estar cheias de coisas neste mundo moderno, porém encontram-se muito só; necessitam escutar que Deus é amor, e sempre está conosco. A bondade, que restaura, é própria de Deus; a liberdade, mal usada que é capaz de desagregar, pertence às pessoas. Que pretensão, querer um mundo sem valores eternos ou sem referência a um Absoluto! Seria bom? Creio, sinceramente, que não. Em todo caso, a autodestruição da humanidade nas próprias mãos, se acelera quando esta humanidade se afasta da casa, do amor e do coração de Deus. Voltemos ao Pai misericordioso, que convida a uns e outros a conviver na mesma comunidade de filhos amados, na Igreja corpo místico de Cristo. Urge fomentar a acolhida incondicional ao que se tem afastado, a tantos que caminham separados, perdidos, sem esperança, a quem busca apoio para reconduzir suas vidas ou não tem capacidade para descobrir os caminhos do retorno. Portanto, qualquer que seja nossa situação, podemos estar seguros de uma coisa: nosso Pai-Deus espera ver-nos no caminho de retorno. Não importa se somos o filho pródigo ou o filho convencido. Não importa quantas e quão profundas sejam as feridas que temos acumulado em nossa história pessoal. O que realmente importa é um coração arrependido que retorna aos braços misericordiosos do Pai. Neste tempo de Quaresma que ainda nos separa da Páscoa, somos chamados a intensificar o caminho interior de conversão. Deixemo-nos alcançar pelo olhar amoroso do Pai e voltemos a ele com todo nosso coração, para sentar-nos à mesa na Páscoa com todos os irmãos.

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