Alegrai-vos no Senhor

Atualizado em 16/12/19 às 15:395 minutos de leitura421 views
Neste terceiro Domingo do Advento, a Liturgia ganha nova vida, pois celebramos a alegria da nossa esperança. Nosso olhar se orienta para a contemplação do mistério da Encarnação, é uma espécie de ponte entre a primeira vinda do Senhor na humildade de nossa carne e a segunda vinda do Senhor, no final dos tempos, sua vinda escatológica em glória e majestade. A ponte que une estas duas vindas é outra vinda, a do Senhor que vem o nosso encontro em cada pessoa e em cada acontecimento, para que o recebamos na fé e pelo amor demos testemunho da chegada de seu Reino. Este domingo, por um lado, anuncia já o mistério da Encarnação, mas por outro nos quer  darmos conta de que o Senhor vem continuamente a nossas vidas, e que esta permanente vinda é condição para a acolhê-lo com alegria e amor quando vier definitivamente. O Senhor veio, o Senhor vem e o Senhor virá: essas três vindas resumem a pretensão do Advento. O mistério da Encarnação não é algo que afeta somente a Jesus de Nazaré. Podemos dizer inspirando-nos na teologia dos santos padres da Igreja, com sua encarnação o Filho de Deus se uniu, em certo modo, com todo ser humano. Portanto, em cada vida humana, vida de filha e filho de Deus, se prolonga este mistério de união do divino com o humano. Em cada vida humana se faz presente o mistério de Cristo: “a mim o fizestes”, disse o Senhor da glória quando explica aos que cuidaram do pobre e desvalido que Ele mesmo estava presente no necessitado (cf. Mt 25). Do mesmo modo que a humanidade de Jesus no sacramento de Deus, sua presença entre nós, o pobre ou o enfermo é o sacramento de Cristo, sua presença entre nós. Este dia, conhecido como domingo “Gaudete” (palavra latina que significa alegria) quer despertar os sentimentos de alegria que produz saber que Cristo está perto de nós, não só liturgicamente, mas sim existencialmente. Buscando este objetivo a liturgia oferece alguns símbolos: a antífona ou canto de entrada, tirada de Filipenses 4,4, que começa com esta exortação: “alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto”. A alegria deste convite não é superficial ou meramente emotiva, nem sequer mundana, ou a alegria eufórica do consumismo. Não é esta, mas trata-se de uma alegria autêntica, da qual somos chamados a redescobrir enquanto aguardamos Jesus que veio trazer a salvação ao mundo, o Messias prometido, nascido da Virgem Maria em Belém; Outro símbolo é a cor litúrgica, que passa do violeta para a cor rosa; mas a primeira leitura, tirada da profecia de Isaías (cf. Is 35,1-6a .10), oferece-nos o contexto adequado para compreender e viver esta alegria: “Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e floresça como um lírio. Germine e exulte de alegria e louvores. Foi-lhe dada a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e de Saron; seus moradores verão a glória do Senhor, a majestade do nosso Deus.” .” (Is 35,1-2) O profeta exorta o povo a manter a esperança através da imagem de uma caravana de repatriados, que se converte em uma procissão com cantos alegres; atravessa o deserto com seus campos áridos, paisagens nuas, terra seca e estéril como um areal. Um dia tudo isso se transformará através da abundância de água e florescerá: Também nós às vezes sentimos nossa vida como terra seca, tão estéril e árida! Essa sensação de inutilidade, essa impressão de estar sem nada que apresentar diante de Deus e das pessoas; este medo de não ter feito nada por Ele, nada que tenha realmente valor à hora da verdade. Vida nossa, terra nossa, seca e pobre, um dia Deus realizará quem sabe também conosco, o prodígio de uma maravilhosa florada, promessa de ricos e abundantes frutos. Para Isaías que espera contra toda esperança, o deserto reverdecido como um pomar dará abundantes frutos e a caravana prosseguirá para a cidade ideal do mundo, Sião-Jerusalém. O Advento é como esta caravana de Isaías, uma caravana viva em busca do Deus-conosco, o Emanuel. Os sinais anunciados por Isaías como reveladores da salvação já presente, realizam-se em Jesus. Segundo o Evangelho (cf. Mt 11,2-11) Ele mesmo o afirma respondendo aos mensageiros enviados por João Batista que os sinais da presença de seu Reino se encontram ali onde “os cegos veem,  os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam” (v. 5). Ou seja, ali onde o ser humano se beneficia, ali onde se cuida do irmão, ali onde o mal retrocede. “Não são palavras, mas fatos que demonstram como a salvação, que Jesus trouxe, abrange todo o ser humano e o regenera... a alegria é o fruto desta intervenção de salvação e de amor de Deus.” (Papa Francisco) Portanto, estes sinais que Jesus fazia, os cristãos agora somos chamados a fazê-los, para sermos assim presença de Cristo para o outro. Se o cristão vê no próximo necessitado a Cristo que ali está mendigando seu amor, o necessitado deve ver no cristão solidário e fraterno a presença de Cristo que se aproxima dele, dando amor. Assim é como podemos viver o Advento com esperança e alegria cristã, assim é como podemos esperar a segunda vinda de Cristo sem temor, assim é como podemos celebrar alegremente o mistério que o Natal nos recorda. Advento não é um tempo para encher a casa de compras supérfluas, nem tampouco é  tempo para sonhar com o dinheiro do premio da ”mega sena acumulada de fim de ano”, mas sim, é o tempo de descobrir o Senhor que se nos faz presente em cada pessoa e em cada acontecimento, “o próprio Senhor nos dá a alegria de entrarmos agora no mistério do seu Natal”. (Prefácio do Advento II) Hoje somos convidados a nos alegrar pela vinda iminente de nosso Redentor; e somos chamados a partilhar esta alegria com outros, oferecendo conforto e esperança aos pobres, aos doentes, às pessoa sozinhas ou infelizes. A Virgem Maria nos ajude nessa novena do Natal que iniciamos esta semana, a ouvir a voz de Deus na oração e servi-lo nos irmãos com compaixão, para chegar prontos ao encontro com o Natal, preparando nosso coração para acolher Jesus.

Pe. José Assis Pereira Soares Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus 

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