Dom Dulcênio: "A Salvação do Brasil é o Coração de Jesus"

Atualizado em 25/06/19 às 10:334 minutos de leitura389 views
Quando contemplamos a perturbadora situação do mundo em que estamos, principalmente o caos moral, político e econômico que no Brasil tem se instaurado nas últimas décadas, somos impelidos, como uma tentação, à desesperança. Parece que encarnamos como nossas próprias palavras o que o salmista entoa: “Eu levanto os meus olhos para os montes; de onde me virá o meu socorro?” (Sl 120,1). Entretanto, se o desestímulo e o desânimo querem arruinar a nossa fé e esperança, o mesmo salmista completa a sua confissão: “O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra” (Sl 120,2). O Coração de Jesus sempre será as respostas para todas as inquietações humanas e sociais. Ele é uma proposta; não uma dentre tantas verdadeiras: mas a única certeira, autêntica de felicidade. Com o transbordamento de graças, cuja fonte é Ele mesmo, não existirá querela, por mais eivada de pecado que seja, imbatível à Sua luz suave, mas que vence o mal e a morte. O Papa Pio XI, em 1932, diante de outra grave crise que afligia todo o mundo, convocou os filhos da ‘Grande Mãe Católica’ para, em oração profunda, confiarem ao Coração de Jesus as decisões e os destinos da humanidade. Oração que deveria se pautar também na penitência e expiação, elementos espirituais que, já naquela época, estavam sendo descurados por alguns: “[...] deploramos que, em nossos dias, a idéia e as palavras ‘expiação e penitência’ tenham perdido em grande parte, e para muitos, a virtude de suscitar aqueles entusiasmos do coração e aqueles sacrifícios heróicos que em outros tempos infundiam, quando se apresentavam aos olhos dos homens de fé como marcados pelo sinete de Deus, à imitação de Cristo e de seus santos. [...] Aquele que oferece a Deus a satisfação pelo pecado, reconhece por isso mesmo a santidade dos supremos princípios da moralidade, a sua força íntima de obrigação, a necessidade de uma sanção contra quem a transgride” (Papa Pio XI, Caritate Christi, 25.26). Engana-se quem pensa que os remédios espirituais são ineficazes ao pecado que se espalha no mundo e nas suas conjecturas sociais, inclusive na política e na economia. A penitência e a expiação moldam, por assim dizer, o coração de quem as pratica, numa responsabilidade que, partindo da conversão pessoal, preenche o mundo com o nosso particular testemunho de santidade. Cada um, modelado ‘em’ e ‘a’ Cristo, poderá fazer deste um mundo onde o Coração de Jesus seja Rei e Centro do meu coração e dos corações. Porque a oração penitencial é “arma salutar posta nas mãos dos aguerridos soldados de Cristo, desejosos de lutar pela defesa da fé e pelo restabelecimento da ordem moral do universo. É uma arma que atinge a própria raiz de todos os males, isto é, a cobiça das riquezas materiais e a concupiscência dos prazeres dissolutos da vida” (Ibidem, 28). Na oração da penitência coibimos toda espécie de corrupção, de impiedade, de imoralidade que visam abater os valores cristãos no mundo, a começar pelos corações. O apostolado que executamos com a nossa oração faz-nos sensíveis e hábeis em atitudes de claro discernimento entre o bem e o mal, seja no íntimo do interior da pessoa humana, e que não se restringe aí: abrange o macro das relações existentes no mundo. Faz-nos conscientes, capazes de optar pelo grito do Evangelho nas diversas situações que se impõem e que pedem respostas à nossa fé, porque o que “esperamos são novos céus e nova terra onde habita a justiça” (1Pd 3,13). Mas não simplesmente uma nova terra que seja realidade póstuma (o que não deixa de ser a nossa esperança após esta peregrinação como cumprimento da promessa do Senhor, que supera infinitamente em qualidade este mundo de passagem em que estamos), mas que deve antecipar para as sombras do hoje da nossa história a plenitude da realidade do Reino do Céu, cuja vinda tanto imploramos, e que, em Cristo, já chegou. O Sagrado Coração de Jesus inspira o novo modelo de mundo, com uma ordem moral baseada única e exclusivamente no Evangelho. Como cristãos, deveremos pôr no poder de governo e das decisões do mundo homens e mulheres tementes a Deus, não com reles aparência, mas cujo coração esteja conectado, seja similar ao Coração de Deus. “Não bastarão para criar uma atmosfera de paz duradoura, nem os tratados de paz, nem os pactos mais solenes, nem os convênios e conferências internacionais, nem os esforços mais nobres e desinteressados de qualquer homem de Estado, se antes não forem reconhecidos os sagrados direitos da lei natural e divina. Nenhum dirigente de economia pública, nenhuma força organizadora poderá jamais solucionar os conflitos sociais, se primeiro, no próprio campo da economia não triunfar a lei moral, baseada em Deus e na consciência. Este é o fundamento de todo o valor, tanto na vida política como na economia”, já afirmava Pio XI. Logo concluímos que o se render ao Sagrado Coração de Jesus é a única sanação dos males que o mundo padece; é a satisfação das necessidades do Brasil. Confiemos estas nossas intenções ao Imaculado Coração da Virgem Maria, a Senhora da Conceição Aparecida. Consagremos a Jesus por Maria Santíssima as famílias, a Pátria e o mundo para que todos sejam atraídos ao Divino Coração do Senhor. Peçamos ainda pela Igreja para que continue anunciando o advento do Reino de Cristo, de quem ela é sacramento, e que não esmoreça no seu papel de denunciar a negativa da justiça e da paz, que, apenas em Cristo, se constituem os verdadeiros sentimentos de “Ordem e Progresso”, tal como se estampa na bandeira brasileira. Amém.

Dom Dulcênio Fontes de Matos Bispo de Campina Grande

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