Pai, Autoridade e Presença

Atualizado em 25/06/19 às 10:143 minutos de leitura357 views
Por: Pe. Luciano Guedes da Silva.

A ideia de liberdade e vida feliz ocupou a vasta reflexão filosófica e ética que atravessou a história do Ocidente. O cientificismo moderno e a especulação da subjetividade anunciaram os tempos do homem emancipado, liberto da figura paterna, vista como obstáculo à criatividade e à invenção. Chegamos ao século XXI, herdeiros de uma cultura que problematizou o edifício familiar e social, contudo sem as respostas satisfatórias para o desejado “homem seguro e bem-sucedido”. Uma orfandade abissal persiste em nossos contemporâneos.  A frenética necessidade de conexão que se cultiva pela mediação de nossa maravilhosa e rápida tecnologia da comunicação é uma evidência disto. Somos seres necessitados de amparo e de proteção! O homem que celebra sua autonomia é o mesmo que busca um sentido para a vida, um motivo para fazer o que faz numa constante luta contra a solidão e o desaparecimento. Ocorre que nas mutações e choques culturais que vivenciamos no último século, passamos do pai centralizador, provedor e autoritário para o pai inseguro e fragilizado quanto ao seu lugar na educação dos filhos.  As tensões que haviam outrora pela redução da liberdade transportam-se agora para a dificuldade de estabelecer limites e valores. Reproduz-se um tipo de educação que simplesmente supervaloriza o “sim” e desconhece o “não” por medo de corrigir e de orientar. Surge a figura de um pai mais midiático e conveniente do que referencial. Na Sagrada Escritura, diz o sábio que um filho bem educado é o suporte e o consolo de seu pai: “Educa bem o teu filho, e ele consolar-te-á e será as delícias da tua alma” (Provérbios 29,17).  O Catecismo da Igreja Católica ensina-nos que compete aos pais serem os primeiros a orientar os filhos para a educação das virtudes: “Dão testemunho desta responsabilidade em primeiro lugar pela criação de um lar no qual a ternura, o perdão, o respeito, a fidelidade e o serviço desinteressado são a regra” (CIC 2223). Ainda observa que para o crescimento nas virtudes morais é necessário a aprendizagem da abnegação, reto juízo e domínio de si que são as condições de toda liberdade verdadeira. Cabe-nos perguntar: é possível educar os filhos sem definir o lugar da autoridade dos pais confiada pelo próprio Deus, Senhor da vida? A desorganização da unidade familiar em muitos lares não está relacionada à quebra da honra e da reverência? Ora, é necessário indagar sobre as causas de tantos sofrimentos que estamos assistindo em nosso tempo. É preciso situar de novo “pais” e “filhos” nos seus devidos lugares, pois uma educação para a virtude passa necessariamente pelo equilíbrio entre o amor e a disciplina. Nem o pai autoritário, nem o pai ausente, inseguro de sua responsabilidade. Ouçamos ainda Santo Afonso de Ligório: “Certamente que a futura boa ou má conduta de um filho depende se ele tem sido criado bem ou mal. A natureza por si mesma ensina a cada pai a participar na educação de sua descendência. Deus dá os filhos aos pais para que cresçam no temor de Deus e sejam conduzidos no caminho da salvação eterna”. Um filho, portanto, é um presente divino confiado aos cuidados de seus pais que decidiram educá-lo; sobre esta decisão cada jornada humana mostrará a seu tempo os frutos. Investir e alcançar resultados na vida profissional de um filho é certamente um objetivo justo a que tantos pais se esforçam e almejam. Entretanto, só pode verdadeiramente ser feliz o pai que vê seu filho crescer na virtude. Virtude que significa valor, qualidade moral, disposição da pessoa em praticar o bem; hábitos constantes que levam o homem para o caminho da felicidade e da realização. O que adiantaria o sucesso profissional de uma carreira num coração vazio, desequilibrado e ingrato? Educar para a virtude supõe a firmeza de um pai que reza e ensina a rezar, trabalha e ensina o valor da superação, faz o bem e ensina o filho a fazer o mesmo. Um pai presente que dirige o olhar para Deus e sabe que Ele é a maior riqueza a ser descoberta será um pai amável, seguro e bom, referência de fé e de honra para seus filhos e netos.  

Padre Luciano Guedes, é Pároco da Catedral Diocesana de Campina Grande e Vigário Geral da Diocese.

 

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