Fake news e comunicação para a paz

Atualizado em 25/06/19 às 10:353 minutos de leitura409 views
A guerra de informações, distorções e boatos, nos espaços virtuais on-line ou mass media trouxe para os tempos contemporâneos um grave problema a ser enfrentado no âmbito pessoal e coletivo: a credibilidade da comunicação. Na medida em que aumentou fantasticamente a velocidade das palavras e imagens no cruzamento instantâneo dos dados, cresceu paralelamente o risco da manipulação, uma vez que as intenções humanas necessitam constantemente de leitura, discernimento e verificação. A esse respeito chama-nos atenção o Papa Francisco em sua Mensagem para o 52º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Diz-nos o Santo Padre que tal problemática enraíza-se numa estrutura mais densa que as simples técnicas – o ser humano e sua ambiguidade.  Reflete o pontífice que as chamadas “fake news, isto é, as notícias falsas, tornam-se frequentemente virais, propagam-se com grande rapidez e de forma dificilmente controlável, não tanto pela lógica de partilha que caracteriza os meios de comunicação social, mas sobretudo pelo fascínio que detêm sobre a avidez insaciável que facilmente se acende no ser humano”. Poderíamos nos perguntar: De onde vem esse fascínio para divulgar a mentira? Continua a ensinar-nos Francisco que em última instância relaciona-se ao embuste do mal, à falsidade que rouba a bondade do coração, o desejo desordenado de poder, ter e gozar. Como um verdadeiro pai continua ele a exortar-nos: “O melhor antídoto contra as falsidades não são as estratégias, mas as pessoas que livres da ambição estão prontas a ouvir, através da fadiga dum diálogo sincero, deixam emergir a verdade; pessoas que, atraídas pelo bem, se mostram responsáveis no uso da linguagem.” Colocar as pessoas em diálogo sincero e responsável: eis um desafio! Desafio sim, porque somos filhos de uma época pouco disposta em ouvir. Na emergência do sujeito autônomo, há também o risco deste tornar-se uma “ilha”, quando a profundidade mais ampla das coisas empurra-nos para um “oceano” de mistérios. A necessidade frenética de repassar informações sem o necessário filtro das fontes, indica de certo modo a sede de impor a própria opinião, de assumir  preliminarmente uma idéia ou  motivação,  suprimindo o direito  do outro em posicionar-se e defender-se. Responsabilizar-se pelo que “dizemos” tem a ver com salvaguardar a sobrevivência de todos. E isto não significa fechar os olhos para o equívoco. Significa o real comprometimento com a palavra e suas consequências. Escutar as razões do outro na sua inteireza e honestidade, pode abrir um caminho mais solidário e menos odioso. Consultar e comparar as fontes e os organismos diversos antes de fazer uma publicação é, sobretudo, a capacidade de reconhecer o nosso limitado conhecimento. Na Sagrada Escritura, precisamente no capítulo terceiro de Gênesis, a velha e astuta serpente engana Adão e Eva com uma história mentirosa. Foi a primeira fake news narrada no Livro Santo sobre a travessia humana na terra. Uma palavra sedutora e bem argumentada, porém intencionada à derrotá-los. Mas como discernir a verdade no exercício de nossos relacionamentos? Um ponto de partida pode ser a identificação quanto ao fruto das palavras emitidas. Elas geram o encontro e a reciprocidade entre as pessoas ou promovem a divisão, a polêmica e o isolamento? A busca da verdade não pode ser algo abstrato e impessoal, mas deve resultar das relações livres, maduras e comprometidas com o bem do outro. Atitudes básicas que podemos prudentemente adotar quanto à comunicação no universo múltiplo das relações: 1) não repassar notícias sem verificação das fontes; 2) escutar o máximo as pessoas e seus reais interesses antes de formatar os juízos; 3) fugir das fofocas e dos fofoqueiros; 4) respeitar a dignidade humana e o direito sagrado de defesa; 5) educar desde cedo para uma técnica à serviço do bem e da verdade.  A comunicação social será mais confiável com a disposição de todas as pessoas em assumirem suas falas e enunciados, sem jamais esquivarem-se de seus deveres e obrigações. (*) Pe. Luciano Guedes do Nascimento Silva – Vigário Geral e Pároco da Catedral Diocesana de Campina Grande

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